Por Marco Aurélio
O blog da revista InvestMais analisa a queda nos Treasuries em 8/12. Aponta para a decisão do Obama e do Congresso americano de criar ou prorrogar uma série de medidas de estímulo à economia americana como os responsáveis. Segundo o raciocíncio, mais estímulo é igual a um déficit maior - e isso é ruim para os títulos do Treasury.
Mas a tendência mais abrangente ditando o rumo dos Treasuries (e do dólar) é a decisão - que Bernanke já havia deixado clara - de continuar a tirar dólares da cartola. Essa decisão foi reiterada em entrevista ao programa 60 Minutes, da rede CBS, na noite de domingo, 5/12. Bernanke disse que mais flexibilização quantitativa (conhecida pela sigla em inglês "QE" e, aqui no Brasil, pela expressão mais direta "imprimir dinheiro") é, nas palavras do chefe do Fed, "certamente uma possibilidade". Não que ele houvesse dito antes que mais QE NÃO fosse uma possibilidade. No domingo, só tornou a repetir que o Fed tem uma capacidade ilimitada de criar dinheiro do nada - e não tem medo de usá-la.
Assim o Fed e o Treasury de Geithner vão continuar a salvar bancos (Goldman, Merrill, Bank of America, Citi), hedge funds (como Greenspan, antecessor de Bernanke, fez com o LTCM em 1998), seguradoras (AIG), montadoras (GM, Chrysler, Ford), redes de lanchonetes (McDonald's), fabricantes de equipamento militar (GE), países (Irlanda, Grécia), bancos estrangeiros (UBS, Deutsche Bank) e qualquer entidade com caixa suficiente para manter lobistas no grande bazar que é Washington DC.
Os brasileiros têm uma vergonha despropositada de seus políticos. Ao contrário dos parlamentares americanos, os brasileiros só fazem mal a seu próprio país. Já os primeiros, além de causar estragos nos próprios Estados Unidos, exportam problemas gravíssimos para o resto do mundo - inclusive, evidentemente, para o Brasil. Esses problemas não são tão fáceis de entender, nem tem nomes tão coloridos, como, digamos, o Valerioduto do Mensalão, a Máfia dos Sanguessugas e outros best-sellers da mídia nacional. Mas o estrago é ordens de grandeza maior.
Assim é com o novo QE de Bernanke, (pre/a)nunciado na noite de domingo. Já é o terceiro pacote. A situação começa a lembrar mais e mais as sucessivas (e fracassadas) tentativas de conter a inflação pelos diversos ministros das Finanças, Fazenda, Economia e Planejamento que se sucederam nos anos 80 e 90, do governo Figueiredo ao Itamar.
A diferença é que, quando um desses pacotes dava errado, tomava-se um avião para Washington para pedir socorro. Mas quando Washington quebra, para onde vira? Como lembra o Roubini, não vai chegar nenhuma delegação de Marte ou da lua para ajudar a resolver a situação de governos soberanos.
E a situação se agrava a cada dia. Os bond vigilantes estão empurrando as taxas de juros para cima - em 7 de outubro, estavam a 2,39%. Na quarta-feira, 8/12, fecharam o dia a 3,27% - um aumento de 36,82% em pouco mais de dois meses.
O Fed, então, pode continuar a imprimir a quantidade de dinheiro que quiser para salvar quem achar que for necessário. Mas vai ter que pagar mais e mais por isso, sob a forma de taxas mais elevadas. O mesmo vale para quem tem dívidas com taxas reajustaveis, como é o caso de detentores de hipotecas. Com taxas mais altas, aumenta o incentivo para atrasar pagamentos, ou simplesmente parar de pagar e devolver o imóvel aos bancos. Isso derruba ainda mais o preço dos imóveis e deixa os bancos comerciais "too big to fail" (Bank of America, Citi, Wells Fargo e JP Morgan Chase) um passo mais perto de ter que revelar seu quadro de insolvência - o que forçaria o Fed a imprimir mais dinheiro para salvá-los, jogando as taxas para cima e derrubando ainda mais os títulos do governo dos EUA.
Dilson Funaro, pai do Plano Cruzado, morreu em 1989. Mas Delfim Netto, Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega ainda estão por aqui. Poderiam ser contratados como consultores pelo Fed. Certamente fariam menos estrago do que o Bernanke.
E essa é a razão real por trás da queda precipitosa dos Treasuries e do dólar nas últimas semanas. O resto, como o teatro fiscal do Obama com o Congresso, é ruído.
Muito bom!
ResponderExcluirSem falar que essa nova medida de prorrogar por mais 2 anos o corte nos impostos deixa aproximadamente US$ 800 bilhões pra girar na economia americana. É dinheiro que não acba mais...
Abcs,