Gregory White
Business Insider
1 de dezembro de 2010
Postado por Marco Aurélio
Dylan Grice, do Société Générale, decompôs a dinâmica de todas as crises financeiras recentes e a expressou em uma fórmula simples.
... A primeira etapa é a recusa em admitir que existe um problema; a segunda é a recusa em admitir que existe um grande problema; e a terceira é a recusa em admitir que o problema tem algo a ver com a gente.
Grice apresenta uma grande quantidade de exemplos, incluindo a crise financeira asiática e o colapso do Lehman.
Seu melhor exemplo, entretanto, pode ser o colapso do mercado imobiliário dos EUA, da maneira como foi explicado por Ben Bernanke e Hank Paulson.
Do Societe Generale (grifo nosso):
Perguntado em 2005 sobre o perigo para a economia representado pela bolha imobiliária, Bernanke respondeu: "Acho que não compartilho da sua premissa. (Um colpaso) é uma possibilidade bastante improvável. Nunca tivemos uma queda nos preços dos imóveis em âmbito nacional."
Essa declaração foi uma recusa em admitir que havia um problema. Mas, à medida que os problemas do subprime se apresentaram, Ben Bernanke assegurou ao mundo que eles seriam "contidos". E quando o Bear Stearns entrou em colapso, Hank Paulson assegurou que "A pior parte, provavelmente, já foi deixada para trás." Aqui tivemos outro momento de recusa em admitir um grande problema.
Depois de certo ponto, não se poderia mais, de maneira plausível, negar o problema. Logo, o ponto focal dos delírios mudou: o governo reconhecia haver um problema, mas os responsáveis eram os outros. Assim, instituiu-se uma proibição de vendas a descoberto a nu (naked short selling). Isso aconteceu em setembro/outubro de 2008, como se a crise fosse, de alguma forma, culpa dos short-sellers. (Certamente não era culpa do Fed, segundo o próprio Fed. Em 2010, Ben Bernanke disse "... Os economistas descobriram que apenas uma pequena parcela do aumento nos preços dos imóveis ... pode ser atribuída à política monetária dos EUA").
Aqui está um guia visual prático para entender a crise:
Fonte: Société Générale
Quanto à crise europeia, Grice diz que ainda estamos na fase de negação.
Na semana passada, o chefe do banco central finlandês e governador do BCE, Erkki Liikanen, disse que "O euro vai sobreviver. Sem dúvida." Klaus Regling, que comanda o Fundeu Europeu de Estabilização Financeira, disse: "Nenhum país vai desistir do euro por sua vontade própria: para os países mais fracos, seria suicídio econômico. Idem para os países mais fortes. E, politicamente, a Europa só teria a metade do valor atual sem o euro."
Mas a verdadeira questão diz respeito a quando a zona do euro vai chegar à fase de apontar culpados, porque já está óbvio quem é que os estados periféricos vão culpar.
Do Société Générale:
Quantos anos de austeridade se passarão, antes que os eleitores da Grécia/Irlanda/Espanha/etc. culpem a Alemanha, a França ou o euro por tudo o que há de errado com suas economias? Será que esse momento sinalizará o início do jogo acusatório, o qual dará início ao capítulo final da crise do euro?
Como a zona do euro vai sair desta? A médio prazo, de acordo com Grice, o BCE terá que imprimir dinheiro, comprando a dívida de países periféricos, num programa de flexibilização quantitativa novo – isto é, se o BCE não quiser que dedos acusatórios comecem a apontar para todos os lados.
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