Jeff Rubin
Ex-economista-chefe da CIBC World Markets, um dos maiores bancos do Canadá.
Postado por Marco Aurélio
Os contribuintes alemães e britânicos estão começando a perceber o lado negativo da interdependência econômica na economia global. Quando os bancos britânicos têm uma exposição excessiva aos bancos irlandeses, de repente a quebra do mercado imobiliário de Dublin vira um problema do Reino Unido. Da mesma forma, quando os contribuintes alemães são obrigados a socorrer governos falidos em Atenas e Dublin, os problemas da Irlanda e da Grécia tornam-se os problemas da Alemanha. Vale a pena perguntar quanto tempo esse modelo de interdependência econômica pode durar.
Provavelmente não muito. Principalmente se Portugal e Espanha também comparecerem ao ponto socorro financeiro da Europa.
O que é cada vez mais evidente, como observei no meu blog de 26 de maio, é que a união monetária europeia não é mais viável. Uma união monetária entre economias semelhantes, como as da Alemanha, França e Benelux, faz sentido. Mas juntar economias fiscalmente mau-comportadas, com rendas per capita muito menores (como é o caso de Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia) e atrelá-las ao Norte europeu faz tão pouco sentido quanto uma união monetária entre o México e os seus parceiros de livre comércio, Estados Unidos e Canadá.
Pode ser que foi preciso um choque financeiro induzido pelo petróleo para desfazer essa união, mas o euro era um acidente esperando uma oportunidade para acontecer. Por não permitir a quebra de seus bancos, pouco supervisionados e regulados, os próprios países estão agora quebrando. Assim, os bancos irlandeses vão ficar de portas abertas, mas escolas e hospitais vão fechar para que o país tente administrar um déficit público equivalente a um-terço do tamanho de sua economia. (Curiosamente, esses são os mesmos bancos que acabam de passar por stress tests financeiros.)
Os contribuintes alemães, que devem arcar com a maior parte do pacote de €85 bilhões em socorro financeiro para a Irlanda, estão, compreensivelmente, cada vez mais furiosos com a perspectiva de ter que dar, de mão beijada, bilhões de euros para que a Irlanda possa manter uma alíquota de IR empresarial de 12,5%, a qual subtrai empregos e produção da economia alemã. E tampouco ficaram felizes quando seu suado dinheirinho estava sendo enviado para a Grécia, um país onde a sonegação é um passatempo nacional, a fim de manter as mamatas locais.
Os contribuintes em países credores estão começando a se fazer a mesma pergunta que tem incomodado os detentores de títulos dos governos da periferia européia. A redução de um déficit equivalente a um-terço do PIB significa que a economia irlandesa, assim como a grega, vai encolher daqui para a frente. E economias em contração tendem a ter problemas com crescentes distúrbios sociais. Não são economias capazes de pagar os juros sobre suas dívidas. É por isso que o mercado de títulos já estava exigindo da Irlanda uma taxa três vezes mais alta do que a taxa para a Alemanha.
Provavelmente, a Irlanda e a Grécia (e Portugal e Espanha também) vão dar o default, desfazendo a união monetária. O que vem a seguir: um ressurgimento do dracma, da libra irlandesa e, talvez, do escudo e da peseta. E à medida que essas moedas desabarem em valor frente ao que sobrar do euro (que deve continuar a ser negociado na Alemanha, França e os países do Benelux), a viabilidade da própria zona de livre comércio européia pode ser colocada em questão.
Compartilho da mesma opinião. A crise já se espalhou pela periferia da Europa, o contágio está bem nítido e com um ponto interessante. Todos os países negaram precisar de ajuda (Grécia e Irlanda), mas é claro os governos precisam de rolar a dívida, ninguém vai falar que está passando por dificuldades caso contrário os títulos da dívida vão as alturas.
ResponderExcluirEstão segurando como podem, até o limite. Mas a questão que fica é? Vai ter dinheiro pra todo mundo? Difícil...