sábado, 4 de dezembro de 2010

Greenspan: Crise no Mercado de Títulos Resultado Inevitável do QE

Bruce Krasting
Zero Hedge

Postado por Marco Aurélio


Acho que este gráfico intradia dos Treasuries (USTs) de 30 anos dizem tudo. A divulgação dos péssimos números sobre a criação de novos postos de trabalho ex-setor agrícola (Nonfarm Payroll Numbers, ou NFP, na sigla em inglês) nos EUA fez com que os títulos saltassem no começo da manhã (por volta de 8:15). Mas logo a escalada perdeu o gás e os preços dos títulos fecharam em baixa.
Qual o motivo para essa subida no preço dos títulos, mesmo com a divulgação de um péssimo quadro de emprego? A especulação sobre novas rodadas de flexbilização monetária (QE) e de medidas de estímulo foi a maior responsável. Os números foram tão ruins que, pelas 9:30 da manhã, os especialistas na TV concluíram que os EUA não vão aumentar impostos ou rescindir cortes de impostos da Era Bush. Pode ser que o governo até resolva suspender de alguma forma os impostos de previdência social (Social Security), pelo menos por algum tempo. Esqueça toda a conversa ora existente sobre limitar o QE2. O papo agora mudou, com todo mundo se perguntando, de forma obsessiva, qual será o tamanho do QE3.

Então, com essa montanha de bobagens como pano de fundo, o preço dos títulos foi ralo abaixo, enquanto o ouro bateu um novo recorde. A confirmação de que o QE foi responsável pela queda no preço dos títulos veio no final do dia, quando houve um vazamento conveniente de uma entrevista com Ben Shalom Bernanke no próximo domingo (5/12), no programa 60 Minutes, da CBS. O vazamento citou Bernanke textualmente, “Podemos fazer mais (QE)”. O mercado de ações gostou dessa conversa e terminou no positivo, enquanto os títulos do governo caíram mais um degrau.

É bom saber que o mercado já captou a idéia de que mais QE e mais estímulo são ruins para o mercado de USTs. O mercado é a única forma de disciplina remanescente capaz de se contrapor à insanidade que se apossou de Washington. Quando as forças do mercado se voltarem contra o "Novo Monetarismo" e fecharem as portas na cara dessa insanidade monetária, a política vai mudar. Até que alguém comece a revidar, o Fed vai continuar imprimindo dinheiro. Estamos nos aproximando disso a cada dia. Veja o gráfico abaixo, mostrando as obrigações dos USTs de longa maturidade, desde o anúncio do QE2:
As taxas de longo prazo subiram 40 pontos-base só no mês passado. É a reação exatamente oposta àquilo que o Bernanke quer. Até que ponto esse aumento nas taxas de juros é deflacionário? Um pouco. Meu palpite é que o impacto das taxas crescentes exatamente compensa o benefício de estímulo de se manter as taxas de curto prazo em seus níveis históricos mais baixos. Sim, mais dívida é financiada no curto prazo do que no longo, mas um aumento nas taxas de hipoteca e uma escalada de capital a taxa fixa de longo prazo para os municípios e as empresas vão anular quaisquer eventuais benefícios da política de taxas de juros a 0% (Zero Interest Rate Policy, ou ZIRP, na sigla em inglês).

Sobre as questões: "As taxas de juros cairão dos atuais níveis de aproximadamente 3% para USTs de de dez anos, e de 4% para USTs de 30 anos, rumo aos 2% a 3% que o Bernanke está tentando criar? Ou será que vão subir para 4% ou 5%, bem diante de nossos olhos?

Na minha opinião, estamos indo para 4%, para os USTs de 10 anos, e para, pelo menos, 5% para os USTs de 30 anos. O QE vai produzir o resultado oposto ao que se pretende. Veja este gráfico de onde os EUA estão em termos de dívida. Não vale apontar para o Japão como exemplo de que as taxas terão que cair nos EUA. O Japão está e estava em uma posição muito diferente daquela dos Estados Unidos.


No cerne do dilema do Bernanke está o seguinte gráfico sobre a participação da força de trabalho. Bernanke quer acelerar a economia de volta a um nível onde a folga na participação do trabalho volte ao ponto onde estava em 2005. Acredita que esse é o mandato do Fed. Quer voltar o relógio, mas não consegue. As linhas desta tabela despencaram como resultado da recessão de '08, mas a tendência em direção a um nível mais baixo já está em vigor há uma década. O envelhecimento demográfico e uma economia exessivamente dependente do consumo e da globalização, que torna os trabalhadores americanos menos produtivos, fazem com que seja inevitável que os EUA tenham um nível muito maior de subemprego e desemprego. Mas o Bernanke não está comprando essa idéia. Sente que sua missão é lutar contra as leis da natureza. O mercado está reagindo. E o mercado vai ganhar.

Não sou um fã do Greenspan. Acho que ele nos colocou na atual situação de crise. Mas respeito sua opinião. Perguntado se os EUA vão mudar o comportamento, disse que sim, e que:
A única pergunta é, isso vai acontecer antes ou depois de uma crise do mercado de títulos (bond markets)?
Pena que o Bernanke não esteja ouvindo. A crise do mercado de títulos é o resultado inevitável.

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