quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No Debate Inflação versus Deflação, Governo Brasileiro Aposta em Inflação

Por Marco Aurélio


Concordo plenamente com ele. A alteração da metodologia de cálculo vai excluir alimentos e energia, como acontece nos EUA, prejudicando uma gama enorme de pessoas (a começar por quem depende de renda fixa). Fábio usa o exemplo de um investimento em Tesouro Direto que pague 5% de juros + IPCA. Um indicador de inflação menor significa um rendimento menor para o investidor - e uma despesa reduzida para o governo. 

Mas o que acho realmente interessante é o timing dessa mudança. Revela muito sobre quem o governo acredita que vai ganhar o debate "inflação versus deflação".

Chris Martenson avisa para não nos deixarmos enganar - a inflação leva vantagem.
Tecnicamente, a inflação e a deflação são termos que indicam uma combinação específica de (1) excesso ou déficit de dinheiro (respectivamente), (2) demanda por dinheiro (do qual a velocidade é apenas uma das medidas), e (3) demanda por vários bens e serviços (a oferta dos quais varia para mais ou para menos).

A razão pela qual o debate sobre inflação versus deflação tem sido tão estridente e, ao mesmo tempo, tão nebuloso é que todas essas variáveis cruzadas têm impacto sobre a equação final.

É como a diferença entre tentar equilibrar um único cabo de vassoura na palma da mão e tentar equilibrar um cabo de vassoura com três dobradiças bem lubrificadas ao longo do seu comprimento. Já é bastante difícil fazer o primeiro; fazer o segundo é quase impossível.

Alguns tentam reduzir o debate de inflação versus deflação a um único cabo de vassoura. Dizem: "O crédito em declínio prova que estamos em deflação!" Mas, na minha opinião, essa é uma visão simplista demais. É preciso ainda considerar a criação da base monetária, a velocidade do dinheiro e a confiança na política monetária, presente e futura, entre a maioria dos participantes do mercado.

Como não podemos realmente conhecer todas as variáveis e a forma como elas interagem, só nos resta olhar o impacto final para descobrir onde estamos. Felizmente, é relativamente fácil fazer isso.

No final das contas, o que nos preocupa é se a nossa renda no futuro vai comprar mais ou menos. Ou se vamos sequer ter renda com a qual nos preocupar.

O argumento a favor da deflação diz que, por causa da queda no crédito, as pessoas vão segurar o dinheiro como se suas vidas dependessem disso, já que não vão ter certeza de que terão mais dinheiro no curto prazo. Nesse caso, a velocidade do dinheiro desacelera e entra em colapso.

O argumento a favor da inflação inclui a idéia de que as dívidas existentes são uma forma de dinheiro e que os bancos centrais do mundo estão imprimindo dinheiro novo, em quantidades mais do que suficientes, tanto para inundar os mercados de commodities quanto para vencer as preferências das pessoas por segurar algo que pode ser criado sem qualquer esforço ou custo.

Muita gente, tanto no campo inflacionista quanto no campo deflacionista, diz que os preços não merecem ser objeto de análise, porque são o resultado, não a causa, de qualquer das duas "flações". Mas seria um erro ignorar os preços simplesmente porque representam o passageiro, não o motorista, nessa história. Saber aonde o passageiro vai pode dar uma boa indicação de aonde o motorista está dirigindo. Portanto, é importante ficar de olho nos preços ao availiar o dilema da inflação/deflação.

Preços

A favor da inflação, temos os preços das commodities, que estão se aproximando novamente do seu pico histórico. Têm crescido a uma taxa média anual de pouco mais de 10% na última década.


Mas os preços das commodities parecem agora estar num ponto crítico nesse gráfico de longo prazo. Ou vão decolar, ou vão ser empurrados para trás, criando um topo duplo não muito diferente do que vimos nos mercados de ações dos EUA em 2000 e 2007.

Mesmo assim, as commodities podem cair muito antes de voltar à linha de tendência em vigor desde o início de 2002, quando os preços começaram a ascensão que os levaria, finalmente, a romper a banda histórica.

Sob qualquer ponto-de-vista, dez anos representam um tempo respeitável para avaliar os preços das commodities. Cuidado com quem escolhe o topo de 2008 como ponto de referência, já que fazê-lo significa perder de vista a linha de tendência indicada em azul no gráfico.
Se aceitarmos a premissa de Martenson de que a inflação vai ganhar, uma nova metodologia de cálculo para a inflação brasileira, que produza um número enganosamente mais baixo, vai trazer enormes benefícios para o governo - mas não para mim e para você.

Um comentário:

  1. Boa noite

    Eu já acompanhava seu Blog a alguns dias, agora está na minha relação de blogs recomendados.

    abraço e sucesso.

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