Por Marco Aurélio
Ditado iídiche
John Williams é o fundador e presidente de Shadow Government Statistics. Seu trabalho consiste em "expor e analisar falhas nos dados e relatórios do governo dos EUA, bem como de certas organizações do setor privado". Além disso, Shadow Stats "fornece uma avaliação de fundamentos econômicos e financeiros, livres dos exageros e distorções da política e da mídia corporativa."
Os dados e estatísticas publicados por Williams têm sido essenciais para determinar, com algum grau razoável de precisão, o estado real da maior economia do mundo. Quem acompanha a política e a economia dos EUA sabe que, há muito, o governo americano abriu mão de qualquer pretensão de transparência e honestidade na divulgação de números estatísticos. Dados relativos à inflação, o montante real de obrigações previdenciárias a descoberto, a taxa de vazamento do poço da BP no Golfo do México, indicadores de diversos mercados – todos esses números são torturados para que digam o que o governo dos EUA quer ouvir. Sofrem com artifícios semânticos, omissões, meias verdades e mentiras deslavadas, que tornam a leitura de qualquer jornal da Grande Mídia americana uma experiência parecida com assitir à televisão na China, ler o Pravda nos dias da União Soviética ou folhear as páginas de Veja.
Zero Hedge comenta a entrevista concedida por John Williams à BNN (Business News Network). Diz:
Williams segue a economia americana como se fosse uma empresa pública auditada segundo o GAAP (nota: com certeza, Zero Hedge se refere aos auditores de antigamente, e não aos de hoje). Diz que, ao contrário de Ben Bernanke, tem certeza absoluta de que "mais cedo ou mais tarde, haverá uma depressão hiperinflacionária". Explica:
O déficit anual está entre USD 4 trilhões e USD 5 trilhões – isso inclui a variação ano-a-ano dos passivos a descoberto ... Não há vontade política para lidar com isso.
O catalisador de uma crise é bem conhecido dos leitores de Zero Hedge:
Quando tivermos uma venda do dólar movida a pânico, é aí que teremos que ter muito cuidado. Mas, só com o que já foi feito com o dólar até agora, tivemos um salto no preço do petróleo e de outras commodities.
Perguntado por que Bernanke não vai conseguir fazer o que Paul Volcker, ex-presidente do Fed, fez no início da década de 1980 (1), a explicação de Williams se concentra no tamanho dos déficits na balança e no orçamento do governo, muito maiores hoje do que na época de Volcker. Diz que os números não são comparáveis, nem em termos absolutos, nem em termos relativos.
Quando lhe perguntaram especificamente sobre o que os consumidores devem fazer num mundo pós-apocalipse, Williams não se mostrou muito otimista. Ironicamente, observou que:
O Zimbábue, em seu processo hiperinflacionário, pode ter tido sorte por ter o dólar como moeda de troca no mercado negro. Mas os EUA não têm essa facilidade e, por isso, a situação vai ficar muito feia quando os alimentos começarem a desaparecer das prateleiras dos supermercados.
E Williams coloca toda a sua reputação em jogo ao definir um horizonte estreito para o pânico no dólar e o início de um processo hiperinflacionário: "os próximos seis a nove meses".
Para assistir à entrevista com John Williams na BNN, clique aqui ou na imagem abaixo.
Para assistir à entrevista com John Williams na BNN, clique aqui ou na imagem abaixo.
(1) Volcker elevou a taxa-meta do Fed (Fed Funds Rate) de uma média de 11,2% em 1979 para 20% em junho de 1981, debelando, com sucesso, um surto inflacionário que levou a taxa a 13,5% por ano em 1981. Em 1983, a taxa de inflação foi de 3,2%. Números pífios para o Brasil, mas traumáticos para os americanos.
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