terça-feira, 30 de novembro de 2010

WikiLeaks: Bank of America Cai 3,18%

Por Marco Aurélio


No dia após a publicação pela revista Forbes da entrevista com Julian Assange, na qual o fundador do WikiLeaks promete publicar uma batelada gigante de documentos internos comprometedores "de um grande banco americano ainda em existência", as ações do Bank of America Corporation (BAC) caíram 3,18% no NYSE.

Embora Assange tenha se recusado a revelar o nome do banco em questão, o programa de Larry Kudlow na CNBC disse acreditar tratar-se do BAC. Também enumerou os outros possíveis alvos: Morgan Stanley, Wells Fargo, Citigroup, JP Morgan Chase e "talvez" o Goldman.

No programa, John Carney, co-âncora de Kudlow, diz que os dedos do mercado estão apontando para BAC, com base numa declaração anterior de Assange de que havia adquirido 5 gigabytes de informações internas vindas de dentro do banco.

Kudlow lembra que, além da queda dos papéis na Bolsa de NY, o custo dos CDS (seguro contra default) do BAC também pularam 25 bips, alcançando o nível mais alto em dezesseis meses. Suas palavras sobre o próximo alvo de Assange: "muitas pessoas concluíram tratar-se do Bank of America". 

Tudo isso está acontecendo sem Assange sequer ter mencionado o BAC. Os investidores estão tirando suas próprias conclusões e vendendo o papel - sem ter absolutamente nenhuma certeza de que Assange realmente possui documentos comprometedores, e muito menos que esses documentos se referem ao BAC. 

Na falta de certeza, sobra para todo mundo. Carney, co-âncora de Kudlow, afirma que, "Investidores no Bank of America, e também em todos os seus maiores concorrentes, estão preocupados."

Para ver o programa de Kudlow na CNBC, via Karl Denninger, clique aqui.

Para ouvir uma explicação mais sintética da situação, assista ao vídeo abaixo.

Era uma Vez na América...


Mas, desta vez, está sendo na Europa.

Uma breve viagem pelo Túnel do Tempo.

Por Marco Aurélio

***
"Cronologia de uma Crise Contida" (Edição 2008)


“Dois fundos de alto risco do Bear Stearns estão quase quebrados”
Folha.com, 18 de julho de 2007

Folha Online, 20 de agosto de 2007

Folha Online, 17 de março de 2008

O Globo, 4 de abril de 2008

Globo.com, 8 de setembro de 2008

Correio da Manhã, 15 de setembro de 2008

O Estado de São Paulo, 17 de setembro de 2008

Folha.com, 20 de setembro de 2008

O Estado de São Paulo, 22 de setembro de 2008

Estadao.com, 3 de outubro de 2008

Abril.com, 7 de outubro de 2008

Folha.com, 10 de outubro de 2008

O Momento “Lehman Brothers" da Europa

Phoenix Capital Research
30/11/2010


Postado por Marco Aurélio

No início deste ano, comentei que a crise da dívida européia estava se desenrolando de forma exatamente análoga à crise bancária dos EUA de 2008. A Grécia este ano desempenhou o papel do banco de investimentos Bear Stearns em março de 2008: um jogador de importância menor, engolido pelo JP Morgan com a ajuda do Fed de NY, numa tentativa de manter a aparência de estabilidade.

Depois da Grécia, veio o anúncio de um resgate de USD 1 trilhão, uma soma parecida com aquela dada às agências quase-governamentais dos EUA, Fannie Mae e Freddie Mac. Foi uma quantidade enorme de dinheiro, desperdiçada pelas autoridades com o intuito de criar a ilusão de que não havia risco sistêmico.

Quando escrevi meu primeiro artigo, disse que só faltava um "evento Lehman", aquele evento especial depois do qual não restariam dúvidas que o contágio está ocorrendo, com graves consequências para o sistema como um todo.

Bem, parece que esse evento está prestes a acontecer.

Mal secou a tinta no contrato firmado para socorrer a Irlanda, e Portugal, Itália e Espanha estão implodindo. O mercado não está mais comprando a história de que o que está acontecendo é um problema isolado, restrito a um único país. A ficha está finalmente caindo para os investidores, com a noção de risco sistêmico finalmente começando a despontar. E, como 2008 bem mostrou, quando o pânico bate, bate pra valer e bate de repente.

De fato, como Zero Hedge observou recentemente, o rendimento sobre o último pacote de resgate para a Irlanda trouxe taxas de 6,7%, um ponto percentual e meio a mais do que a taxa exigida dos gregos. Em outras palavras, o FMI e a UE consideram ajudar a Irlanda uma empreitada mais arriscada do que socorrer a Grécia.

Mas será que a situação da Irlanda realmente parece pior?


Tanto a razão entre déficit e PIB quanto a razão entre dívida e PIB são menores para a Irlanda do que para a Grécia. Além disso, o PIB também é menor, fato que implica a necessidade de uma quantidade nominal menor de dinheiro.

E mesmo assim a Irlanda é considerada mais arriscada do que a Grécia?

Vamos ser francos: a Irlanda não é mais arriscada do que a Grécia. Simplesmente está sendo socorrida num momento mais adiantado do jogo, quando todo mundo já começou a perceber que a dinheirama sendo usada para resgatar a periferia européia está sendo jogada ralo abaixo e que, no final das contas, um default é a única solução possível. Os credores não vão receber nem um centavo desse dinheiro ... logo, a taxa de juros mais elevada é uma tentativa de recuperar o máximo possível antes do default inevitável.

E a Espanha e a Itália são as próximas da fila.

Trocando em miúdos, estamos literalmente à beira de um momento "Lehman Brothers" na Europa. Todos, inclusive os otimistas mais cegos, estão começando a acordar e a perceber o fato simples e óbvio de que não é possível resolver um problema de dívida com a emissão de mais dívida. Nunca funcionou antes, e certamente não vai funcionar agora.

Já faz alguns meses que venho alertando sobre a volta do risco sistêmico. Se você ainda não tomou medidas para se preparar, O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?  UM CONVITE FORMAL? Você realmente acha que a crise da dívida externa européia está "contida"? A última vez que a palavra "contida" foi usada no contexto de uma crise financeira foi nos EUA, no início de 2008.

E deu no que deu.


Bons investimentos,

Graham Summers
http://www.gainspainscapital.com

Por Que a Crise Ainda Não Acabou – 22 Principais Razões

James Wesley Rawles
Survivalblog.com


Postado por Marco Aurélio

Este artigo foi escrito em outubro de 2009. Desde então, a dinâmica associada a TODOS os 22 pontos abaixo vem acelerando e ficando cada vez mais clara. Provam que a visão "negativa" de quem ainda insistia em enxergar problemas, sete meses após o início da "recuperação" das bolsas dos EUA no final do primeiro trimestre de 2009, era, na verdade, de um realismo salutar – especialmente quando contraposto à ignorância e propagandismo da mídia de massa. 

Além dos problemas listados abaixo, podemos acrescentar outras ameaças sistêmicas que vieram à tona este ano, como a crise dos países europeus e o escândalo das fraudes nos processos de arresto de imóveis pelos grandes bancos (fraudclosure) M.A.

Por Que a Crise Ainda Não Acabou – 22 Principais Razões

1. Um mercado de crédito global falido, que não se recuperou totalmente.
2. Falta de transparência nos mercado de hipotecas (Mortgage-Backed Securities) e outros instrumentos de dívida exóticos.
3. A dívida federal americana está crescendo a uma taxa sem precedentes.
4. Montanhas de dívidas pessoais e empresariais nos EUA.
5. O déficit do orçamento federal dos EUA continua crescendo.
6. Pacotes cada vez maiores de socorro a bancos.
7. A monetização da dívida nacional.
8. O fim da economia movida pelo consumidor americano.
9. Desemprego crônico nos EUA, possivelmente muito mais alto do que o relatado oficialmente.
10. Mais de USD 500 bilhões em empréstimos para hedge funds, que tomaram dinheiro emprestado com maturidades de curto prazo e só vão receber o retorno no longo prazo (borrowed short and lent long).
11. Uma iminente onda dupla de aumentos de taxas de hipotecas residenciais.
12. Continuação na queda dos preços dos imóveis nos EUA.
13. Um "estoque-fantasma", de tamanho subestimado, de casas arrestadas pelos bancos.
14. O colapso muito provável do mercado de imóveis comerciais.
15. Uma gigantesca tempestade causada pelos derivativos de balcão (over-the-counter derivatives).
16. Déficits de financiamento nos fundos de pensão.
17. Uma onda iminente de quebras de municípios e de hedge funds operando com títulos municipais.
18. Um número crescente de quebras bancárias.
19. Colapsos de seguradoras – algumas, como a AIG, foram tão burras que venderam seguro para mais de um trilhão de dólares em contratos de derivativos.
20. Nos EUA, deterioração nos orçamentos de estados, municípios e cidades.
21. A perda de confiança no dólar pelos mercados de câmbio.
22. Uma iminente inflação monetária, seguida de deflação em ativos.

Wikileaks: Canal de Informação ou Desinformação?

Abaixo está uma história, a estas alturas já bastante divulgada pela mídia de massa, com comentários de Karl Denninger, do blog The Market Ticker. A história, publicada na revista Forbes, comenta o mais novo "vazamento" do site Wikileaks - desta vez, de informação ligada a bancos. Juliane Assange diz, com modéstia, que o impacto não será grande coisa - vai "derrubar um ou dois grandes bancos americanos", no máximo.

Depois de postar a tradução deste post de Denninger, encontrei a seguinte observação, do ótimo blog Trade with Dave. Foi escrita em 22 de outubro de 2010, quando o Wikileaks se preparava para "vazar" documentos confidenciais sobre a Guerra do Iraque.

Todo mundo já deve ter ouvido falar que o Wikileaks está se preparando para vazar mais outra batelada de informação militar dos EUA.
(Segundo a mídia americana, o Pentágono estava abaixando e adotando uma postura defensiva, preparando-se para o impacto do vazamento.)

Dave continua:
O Wikileaks começa a ficar cada vez mais parecido com um canal de desinformação, não informação. Desde quando o Pentágono "abaixa-se e adota uma postura defensiva, preparando-se para o impacto" de alguma coisa?
Marco Aurélio 

***


The Market Ticker
Karl Denninger


Postado por Marco Aurélio
Umm... agora a gente sabe por que tem tanta gente pedindo a prisão de Julian Assange, um dos fundadores do site de denúncias Wikileaks.

(Entrevista da Forbes com Julian Assange disponível em inglês aqui. M.A.)
Pergunta: Então você tem material corporativo de alto impacto para revelar?
Julian Assange: Bom, talvez o impacto não seja tão grande assim... Pode derrubar um ou dois bancos.

Pergunta: E como será o impacto?
J.A.: Bom, (não tão grande quanto o impacto de vazamento de documentos militares), mas estamos preparando a publicação de um megavazamento (megaleak) ligado a um banco. Não é tão grande quanto o megaleak sobre a Guerra do Iraque, mas são dezenas ou centenas de milhares de documentos, dependendo da definição que você adota.

Pergunta: É sobre um banco americano?
J.A.: Sim, é sobre um banco americano.

Pergunta: Um que ainda existe?
J.A.: Sim, um banco americano grande.

Pergunta: É sobre o maior banco americano?
J.A.: Prefiro não comentar.

Pergunta: Quando vai acontecer?
J.A.: No começo do ano que vem. Não posso falar mais do que isso.

Pergunta: Qual você quer que seja o resultado desse vazamento?
J.A.: (Pausa) Não tenho certeza.

Vai dar uma visão verdadeira e representativa sobre como os grandes bancos se comportam no nível executivo, de uma maneira que vai incentivar investigações e reformas, creio. Geralmente, quando obtemos um vazamento de informação a esse nível, é sobre um caso ou uma violação em particular.

Só tem um paralelo semelhante para isso. É o caso dos emails da Enron. Por que esses email tinham tanto valor? Quando a Enron caiu, vazaram, graças aos processos legais, milhares e milhares de emails internos que forneceram uma janela para a maneira como a empresa era administrada. Mostraram todas as pequenas decisões que sustentaram as violações mais escandalosas.

Esse novo vazamento será assim. Sim, haverá algumas violações escandalosas, bem como práticas não éticas. Elas serão reveladas, mas vai ser também uma oportunidade de ver todas as estruturas de decisão e o ethos a nível executivo interno – isso tudo virá à luz do dia e tem um valor incalculável. Assim como aconteceu com os registros sobre a Guerra do Iraque – bom, é verdade que houve casos nos quais houve grandes perdas de vida, e que tiveram peso como notícia, mas o valor maior está em ver a guerra em toda a sua amplitude.

É algo que poderíamos chamar de um ecossistema de corrupção. Mas também são importantes todas as tomadas de decisão diárias, gente dentro da empresa que fez vista grossa e apóia práticas antiéticas, os controles internos que falharam, as prioridades dos executivos, a maneira como acreditam estar perseguindo seu próprio interesse. A maneira como falam sobre isso.
Se você estava se perguntando por que há um desejo repentino de fechar o Wikileaks, depois do vazamento de todo tipo de material secreto sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão, e isso gerou nada mais que "indignação" por parte do governo americano - bem, agora você sabe.

O Wikileaks está atrás de alguns bancos.

(Alô, Eric Holder, Ministro da Justiça dos EUA: por que você não corre atrás de alguns bancos? Estou brincando – sei que a pergunta é retórica, com uma resposta simples. É porque os executivos dos bancos têm você e o Obama, junto com o Congresso, de quatro na cama).

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Roubini: Comparando a Espanha com os Outros PIIGS

Abaixo está a tradução das páginas introdutórias do pdf da Roubini Global Economics (RGE). O restante do documento pode ser lido aqui. M.A.

Postado por Marco Aurélio


Nouriel Roubini
Elisa Parisi-Capone
Christian Menegatti

25 de novembro de 2010

A crise se espalha pelo Europa, com o contágio pulando da Irlanda para a Espanha. Ambas têm vulnerabilidades importantes, desenvolvidas na esteira do boom e quebra de seu setor imobiliário, com um grande excesso de dívidas podres pesando sobre o setor bancário. Uma comparação de preços mostra que a bolha imobiliária na Espanha foi mais grave do que nos Estados Unidos, mas menos do que na Irlanda.

O louvável sistema espanhol de provisionamento de reservas suficientes para pagamentos duvidosos fornece um raro alívio no quadro de crise, mas uma comparação das relações entre preços e aluguéis mostra que a maior parte da correção no preço dos imóveis ainda está por vir. Assim, a pressão sobre o sistema bancário deve aumentar.

Ao contrário da Irlanda, a economia espanhola está sujeita a problemas de rigidez estrutural que impedem um ajuste rápido da competitividade por meio da desvalorização interna, dificultando um rápido retorno ao crescimento. Embora o desempenho fiscal deste ano esteja de acordo com o plano já estabelecido, a meta fiscal de 2011 de 6%, em meio a um cenário de austeridade fiscal, será mais difícil de atingir. De algumas maneiras, os fundamentos macroeconômicos e financeiros da Espanha são melhores do que os de outros países da periferia européia (por exemplo, destacam-se na Espanha a poupança nacional e os níveis de dívida pública). Mas, em muitas dimensões, esses fundamentos são piores, e as vulnerabilidades financeiras, mais graves (podemos citar como exemplos a taxa de desemprego e grandes necessidades de financiamento).

Se as pressões de liquidez corrente não amainarem e a Espanha for obrigada a recorrer ao mecanismo de financiamento da UE, depois da Irlanda – e possivelmente Portugal – o ter feito, os €500 bilhões em recursos da UE (para além dos €250 bilhões ainda não empenhados pelo FMI) dariam pouquíssima margem de manobra. Essa situação tornaria a Espanha uma candidata a ser socorrida que é, ao mesmo tempo, grande demais para quebrar e grande demais para salvar, abrindo as portas para a especulação contra a coesão da zona do euro.

Falta agora ver se o acréscimo de €140 bilhões em garantias, sugerido por Axel Weber do BCE, é suficiente ou politicamente viável.

Apresentação

O contágio já chegou à Espanha, tanto no que diz respeito à dívida soberana quanto em relação a seu sistema bancário. Vem na esteira dos problemas financeiros da Irlanda e de seu pedido de socorro financeiro. Em contraste com a Grécia, onde as principais vulnerabilidades estão centradas no setor público, tanto a Espanha quanto a Irlanda têm grandes desequilíbrios em seu setor privado, criados pelo esvaziamento de uma bolha imobiliária.

Como o fluxo de excesso de poupança do exterior diminuiu após o estouro da bolha, as perdas privadas estão sendo socializadas, com conseqüências desastrosas para o balanço do setor público, embora não na mesma medida que na Irlanda.

O setor bancário da Irlanda, grande demais em relação a seu PIB, bem como a decisão de seu governo de garantir seus bancos, que também são grandes demais para a Irlanda salvar por conta própria, aceleraram a dinâmica insustentável da dívida. Mas é preciso perguntar: sera que a Espanha é um caso com diferenças fundamentais? Os investidores pareciam dispostos a dar uma chance à Espanha, mas a dinâmica que tomou conta do mercado desde que a Irlanda pediu ajuda financeira mostra que a situação está sendo reavaliada. Na opinião da Roubini Global Economics, as preocupações atuais são, em parte, justificadas com base nos fundamentos, especialmente se os custos dos empréstimos e dos prêmios de liquidez continuarem a subir.

Os comentários do presidente do Bundesbank alemão, Axel Weber, de que o fundo de resgate de €500 bilhões pode ser aumentado, se necessário, para evitar o colapso do euro demonstra que essa preocupação é compartilhada até mesmo por quem se opõe ao socorro com mais veemência.

(Para ler o restante to relatório em formato pdf, em inglês, clique aqui).

Clique no gráfico abaixo para ampliar.



Europa Pode Admitir Rússia na Zona do Euro

Telegraph UK
Putin: Rússia Pode Entrar para a Zona do Euro




Postado por Marco Aurélio

No dia 26 de novembro, Vladimir Putin disse que é "muito possível" que a Rússia um dia faça parte da zona do euro, criando uma moeda capaz de ofuscar o dólar americano como o padrão de reserva mundial.

Ao falar em uma conferência na Alemanha, o primeiro-ministro russo, que está no país para conversas com a chanceler Angela Merkel, disse estar convencido de que o euro sairia estabilizado e fortalecido, apesar da atual crise dos governos europeus.

Disse: "Sim, há problemas, mas a política econômica do Banco Central Europeu e dos governos das principais economias européias ... convencem-me de que a estabilidade do euro será garantida.".

E acrescentou: "Sabemos que existem problemas em Portugal, Grécia e Irlanda, e que o euro está balançando um pouco. Mas, como um todo, é uma moeda boa e sólida, que deve ocupar o seu lugar e desempenhar o seu papel como moeda de reserva".

Perguntado sobre o papel da Rússia na zona do euro no futuro, Putin disse: "Pode-se supor que um dia a Rússia estará em alguma zona monetária comum com a Europa? Sim, é bem possível".

Falando no mesmo evento, Josef Ackermann, CEO do Deutsche Bank, ecoou as palavras de Putin e disse ser capaz de imaginar a Rússia aderindo à moeda comum europeia.

Putin disse que durante a última década tem havido uma dependência excessiva do dólar que precisa ser reformulada, pois torna a economia mundial vulnerável. "Devemos nos afastar do monopólio extremo do dólar como a única moeda de reserva global", disse.

29/11/10 - CDS de Espanha e Portugal Sofrem Ataque Nuclear

Submetido por Tyler Durden

Postado por Marco Aurélio

(Segunda-feira, 29/11/10) Hoje pela manhã, os CDS (credit default swaps) da Península Ibérica foram alvos de um ataque nuclear, com os CDS (um seguro que protege contra o default) de Espanha e Portugal aumentando em 23 e 36 bips, respectivamente, para chegar a 354 e 538 bips. O segundo esquadrão de candidatos a novos pacotes de socorro também se apresentou, com Bélgica e Itália à frente. Ambos tiveram seus CDS esticados em pouco mais de 16 bips, chegando à marca dos 178 e 232 bips. O centro da zona do éuro agora também entrou na dança – Áustria e Alemanha abriram 5%, com um aumento de 87 e 50 bips cada. As bases estão aumentando, dada a falta de títulos em espécie (cash bonds). 

O motivo para esses movimentos, que todos os leitores de Zero Hedge já sabem de cor a esta altura, é que, segundo Market News, “um grupo crescente de pessoas teoriza que, sem uma reestruturação significativa da dívida da Irlanda, a solução apresentada agora é nada mais que um paliativo. Muitos operadores também temem que a taxa proposta de 5,83%, quando aplicada aos novo fundos, será impalatável para a economia irlandesa.” Em outras palavras, começou a contagem regressiva para Portugal, Espanha, Bélgica e Áustria.

sábado, 27 de novembro de 2010

Grécia? Irlanda? Portugal? Espanha? Itália? Reino Unido?

Washington's Blog


Ler no original

Postado por Marco Aurélio

Todo mundo agora sabe que os dominós de um contágio em potencial na Europa devem cair aproximadamente na seguinte ordem:

Grécia Irlanda Portugal Espanha Itália Reino Unido

Enquanto algumas pessoas já vem escrevendo sobre isso há mais de um ano, tem muita gente que só agora embarcou na onda (existem mais de 600.000 hits no Google para esse assunto).

Todo mundo agora também já sabe que, enquanto a Grécia e a Irlanda têm economias relativamente pequenas, o grande problema vai ser quando o dominó espanhol cair.

A economia da Islândia ocupa a 112ª. posição; a da Irlanda, a 38ª., Portugal, a 36ª. Já a espanhola é a nona, a da Itália, a sétima, e a do Reino Unido, a sexta. Uma quebra de uma dessas três últimas seria devastadora para a economia mundial.

Como Nouriel Roubini escreveu em fevereiro:

“Mas o verdadeiro dominó-pesadelo é a Espanha.”

Roubini se refere aos problemas da dívida espanhola como "o elefante na sala".
Você pode tentar isolar a Espanha. E pode tentar dar financiamento oficial para a Irlanda, Portugal e Grécia, por três anos. Então pode deixar esses países fora do mercado. Depois, talvez até reestruturar suas dívidas.

Mas se a Espanha cair no precipício, não haverá dinheiro oficial suficiente no fundo europeu para socorrer a Espanha. A Espanha é grande demais para falir, por um lado, e também grande demais para salvar, por outro.

Com a Espanha, o primeiro problema é o tamanho da dívida pública: €1 trilhão. (A Grécia, para efeitos de comparação, tem €300 bilhões de dívida pública). A Espanha também tem €1 trilhão em dívidas privadas estrangeiras.

Para problemas dessa magnitude, simplesmente não há recursos governamentais ou supra-governamentais suficientes.
Como já observei, a Alemanha e a França – a quarta e a quinta maiores economias - têm a maior exposição à dívida portuguesa e espanhola. Para saber mais sobre as interconexões entre as economias do euro, que aumentam o risco de contágio, clique aqui e aqui.

Embora seja tentador pensar que os resgates da zona do euro significam que há países credores que administraram suas economias bem e acumularam grandes quantidades de reservas, as quais emprestam, Sean Corrigon mostra que, na verdade, os resgates europeus são uma enorme pirâmide:
Sob as regras deste jogo viciado envolvendo trilhões, os governos soberanos garantem o Banco Central europeu, que dá fundos para os bancos comprarem a dívida do governo, que fornece garantias para todos.
(Nos EUA não é diferente: Bill Gross, Nouriel Roubini, Laurence Kotlikoff, Steve Keen, Michel Chossudovsky e o Wall Street Journal todos dizem que a América também está construindo uma enorme pirâmide. E tanto os EUA quanto a Europa tentam encobrir a insolvência de seus bancos com testes de stress falsos).

Não precisava ser assim. As nações européias não tinham que se sacrificar pelos seus grandes bancos.

Como Roubini escreveu em fevereiro:
"Decidimos socializar as perdas privadas do sistema bancário."
    
***

Roubini acredita que repetidas tentativas de intervenção só aumentaram a magnitude dos problemas com a dívida pública. Diz: "Agora temos um monte de super-soberanos – o FMI, a UE, a zona do euro – resgatando esses governos".

Essencialmente, os supra-soberanos garantem a dívida dos governos – aumentando a escala e concentrando os problemas.

Roubini caracteriza a intervenção supra-soberana como uma mera postergação do problema. Diz ironicamente: "Não vai ter ninguém vindo de Marte ou da lua para socorrer o FMI ou a zona do euro."

Mas, apesar da dança de papéis ao nível nacional, e também ao nível das entidades supranacionais, a realidade acaba vencendo: "Chega um ponto em que é preciso ter algum tipo de reestruturação. Em algum ponto, precisamos que os credores dos bancos sofram perdas – caso contrário, colocamos toda essa dívida no balanço dos governos. E então você quebra a espinha dorsal do governo e, em seguida, o governo fica insolvente".

E aqui está a minha opinião, em abril deste ano:

Como eu disse em dezembro de 2008:
O Bank for International Settlements (BIS) é chamado de "banco central dos bancos centrais", porque coordena as transações entre bancos centrais.

O BIS assinala em novo relatório que os pacotes de salvamento transferiram riscos significativos para o balanço dos governos, algo que se reflete no correspondente aumento nos swaps de crédito soberano:
O alcance e a magnitude dos pacotes de resgate bancário também significam que riscos substanciais foram transferidos para os balanços do governo. Isso ficou especialmente evidente no mercado de referência para CDS soberanos envolvidos tanto no socorro a bancos individuais grandes quanto em pacotes abrangentes para o setor financeiro, inclusive nos Estados Unidos. Embora tais CDS fossem pouco negociados antes do anúncio dos pacotes de resgate, os spreads aumentaram de forma repentina com um salto na demanda por proteção ao crédito, enquanto os spreads correspondentes do setor financeiro diminuíram.
Em outras palavras, ao assumir grandes porções do risco dos bancos que negociavam derivativos tóxicos, e ao gastar trilhões que não têm, os bancos centrais colocaram seus países em risco de default.

    ***
Mas Eles Não Tinham Escolha ... ou Tinham?

Mas os países foram obrigados a socorrer seus bancos, não?

Bem, na verdade, foi uma escolha deles.

O principal economista monetário disse ao Wall Street Journal que esta não era uma crise de liquidez, mas uma crise de insolvência. Ela disse que Bernanke está lutando a guerra passada, com uma abordagem errada (os outros bancos centrais estão fazendo a mesma coisa).

Paul Krugman, economista ganhador do prêmio Nobel, e o famoso economista James Galbraith concordam. Dizem que as tentativas do governo de sustentar o preço dos ativos tóxicos não adianta nada.

O BIS criticou a política de crédito fácil do Fed e outros bancos centrais, a falta de regulação do "shadow banking system", o uso de artifícios e paliativos", e disse que qualquer coisa que não seja (1) deixar os preços dos ativos cair a seu verdadeiro valor de mercado, (2) aumentar as taxas de poupança e (3) obrigar as empresas a dar baixa em dívidas podres "só vai piorar as coisas".

É importante lembrar que os EUA não eram o único país com uma bolha imobiliária. Os banqueiros centrais do mundo inteiro permitiram o desenvolvimento de uma bolha global no setor imobiliário. Como observei em dezembro de 2008:
... A bolha não se restringe aos EUA

Havia uma bolha global no mercado imobiliário.

E, de fato, a The Economist escreveu em 2005 que o boom mundial em preços dos imóveis residenciais nesta década foi "a maior bolha da história". The Economist observou que - na época - o valor total dos imóveis residenciais nos países desenvolvidos aumentou em mais de USD 30 trilhões, para USD 70 trilhões, no decorrer dos últimos cinco anos - um aumento igual ao PIB combinado desses países.

Bolhas imobiliárias estão agora estourando na China, França, Espanha, Irlanda, Reino Unido, Europa Oriental, e muitas outras regiões.

E a bolha no setor imobiliário comercial também está estourando no mundo inteiro. Veja isto.
***

O BIS também advertiu que os pacotes de socorro podem prejudicar a economia real (uma advertência também feita pelo ex-chefe de operações de mercado aberto do Fed). Na verdade, os resgates criam um clima de perigo moral (moral hazard) que incentiva um comportamento ainda mais arriscado. O Prêmio Nobel de Economia George Akerlof previu, em 1993, que os credit default swaps levariam a um grande crash, e que mais crashes eram uma certeza, a menos que os governos impedissem os grande players da área financeira de fazer apostas que nunca poderiam pagar se as coisas dessem errado. Também teriam que parar de socorrer esses players.

Estas verdades são tão aplicáveis na Europa quanto nos EUA. Os banqueiros centrais têm feito coisas erradas. Não consertaram nada - simplesmente transferiram os derivativos tóxicos e outras bombas financeiras dos bancos gigantes para os balanços nacionais.

Nota: Mesmo que a razão entre a dívida da Itália e seu PIB pareça alto, a Itália tem uma alta taxa de poupança e quase toda a sua dívida está nas mãos de italianos. Por isso, pode não ser tão vulnerável como se poderia pensar.

Campanha "Buy Silver" de Max Keiser pode Derrubar JP Morgan

Kevin McElroy 
Seeking Alpha

Postado por Marco Aurélio


Nos últimos anos, tenho comprado prata. Podem acreditar quando falo que nunca imaginei que isso me tornaria parte de um movimento político ou social. Compro prata por razões práticas - para proteger uma parte do meu patrimônio no caso de uma crise cambial.

Mas agora, neste exato momento, há um grupo de pessoas promovendo a compra da prata, com a finalidade de quebrar o banco JP Morgan. Um agitador especialmente eloquente é o analista financeiro Max Keiser. Dizem que foi ele quem deu a partida nesse movimento. Para falar a verdade, acho que Max está 100% certo em sua análise. Só não sei se o seu plano vai funcionar.

Um resumo rápido: há anos - talvez décadas - um grupo de bancos vêm, alega-se, manipulando o mercado de prata para fins próprios. Não duvido da acusação. A Commodity Futures Exchange Commission dos EUA está atualmente investigando a suposta manipulação do JP Morgan.

Em 26 de outubro, Bart Chilton, Comissário do CFTC, disse,
Acredito que houve várias tentativas de influenciar os preços nos mercados de prata ... Houve esforços fraudulentos para influenciar e controlar, de forma malévola, o preço da prata. Com base no que me foi relatado por membros do público, e com base na revisão de documentos disponíveis ao público, acredito que aconteceram violações à Lei da Bolsa de Mercadorias (Commodity Exchange Act) nos mercados de prata e que qualquer violação dessa lei deve ser processada.
Para que não me acusem de qualquer ambiguidade: ainda aconselho as pessoas a comprar prata física (e ouro também) - mas tenho minhas dúvidas de que fazê-lo levará a JP Morgan à falência. Por que? Pelo mesmo motivo que não ficaria surpreso de ouvir sobre outro pacote de ajuda do governo federal para a indústria automobilística, ou para bancos, o setor de hipotecas, o transporte ferroviário, e instituições nas esferas federal, estadual e municipal.

Por motivos incrivelmente estúpidos e completamente míopes, o governo federal atribuiu-se o mandato suicida de não deixar nenhuma grande instituição americana quebrar. O governo federal comunga publicamente da idéia de fazê-lo colocaria em ação uma cadeia de dominós, caindo um após o outro, levando à quebra dessas grandes instituições. Ou acham que permitir a quebra dessas instituições causaria uma espécie de fim-do-mundo ... Ou talvez estejam simplesmente usando qualquer crise como pretexto para assumir o controle temporário (ou talvez permanente), para evitar o fracasso dessas organizações.

Será que o secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, vai permitir que seus companheiros de banco lá no JP Morgan se dêem mal caso essa campanha de compra de prata dê certo? Isso me surpreenderia. Neste momento, o Tesouro dos EUA e os interesses do JP Morgan estão interligados. O Tesouro dos EUA precisa de bancos como JP Morgan para executar seu jogo de esconde-esconde com os trilhões de novas emissões do Tesouro a cada ano. O JP Morgan fica mais do que feliz em fazer parte desse jogo; em contrapartida, todo o sistema bancário é garantido pelo Tesouro americano.

Além disso, o Geithner provavelmente não é um grande fã dos metais preciosos. Quando a prata e o ouro batem novos recordes denominados em dólares, esse acontecimento é visto no mundo inteiro como um sinal de fraqueza do dólar. Isso torna o trabalho do Geithner muito mais difícil. Assim, o fato de que o JP Morgan esteja supostamente manipulando a prata para jogar o preço para baixo coloca o banco nas boas graças de Geithner. Acho que, no caso de uma quebra, ele ajudaria o banco intercedendo junto ao CFTC, a SEC e o Congresso – se preciso, com outro pacote de ajuda (bailout). Talvez até mude as regras para beneficiar os vendedores de prata a descoberto, mesmo que prejudique as posições compradas.

Há inúmeros caminhos perversos que o governo federal poderia seguir numa intervenção para diminuir o prejuízo do JP Morgan. Infelizmente, não tenho uma mente perversa. Não me levem a mal, acho que é muito nobre querer ensinar uma lição ao JP Morgan. Faz da compra de prata um proposta ganhadora. Mesmo que o movimento do Max Keiser não quebre a JP Morgan, vai trazer à luz do dia muitos dos problemas sórdidos inerentes ao nosso sistema financeiro.

Pode até dar a partida para que o colapso do dólar acelere. Então, resumindo, acho a campanha uma coisa boa. Só não imagino que o governo federal americano vá deixar o JP Morgan quebrar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Jim Chanos vs. China - Bye-Bye Vale do Rio Doce


A revista Fortune entrevista Jim Chanos, que fala sobre seus motivos para ser pessimista em relação à China - e explica por que as exportações de minério da Vale para a China podem sumir de repente. M.A.


Fortune
17 novembro de 2010

Postado por Marco Aurélio

 
O influente short seller Jim Chanos aposta que a economia chinesa está prestes a implodir num colapso imobiliário espectacular. Muita gente espera que Chanos - que previu o colapso da Enron – esteja errado desta vez.

Entrevistador: Bill Powell
A cena é uma festa muito acima do horizonte de Xangai, em uma noite de verão, há alguns meses. Nosso anfitrião é um mago do Universo de Hedge Funds. Prefere permanecer anônimo, então vamos chamá-lo de Pete.

Pete vem à China pelo menos duas vezes por ano para ver de perto o que está acontecendo na economia mais dinâmica do mundo. Diz que, se não tivesse filhos na escola nos EUA, pensaria em mudar para cá, um país com um futuro brilhante. Também presentes à festa estão outros investidores de hedge funds, venture capitalists, gestores de fundos e todo mundo com uma visão otimista sobre o futuro da China.

Mas há uma maneira infalível de estragar a festa: é só perguntar aos convidados o que acham do lendário short seller James Chanos, diretor executivo da Kynikos Associates, com base em Manhattan.

Então é isso que eu decido fazer.

"Ei," digo a um aglomerado de pessoas ao redor Pete. "Vocês viram o que o Jim Chanos falou sobre a China no programa do Charlie Rose outro dia?"

"Não", diz um venture capitalist americano que trabalha em Xangai. "O que foi que ele disse?"

"Disse que a China está correndo sobre uma esteira econômica em direção ao inferno."

Há mais de um ano, Chanos - o homem que acertou sobre a quebra da Enron (entre outras coisas) antes de qualquer outro – tem travado uma campanha contra a China. O cara que ficou famoso - e rico – vendendo a descoberto (shorting) empresas agora diz que ele está vendendo um país inteiro.

Quando menciono a expressão "esteira para o inferno" para o grupo em Xangai, a reação é a de sempre quando surge o nome de Chanos: "O que ele sabe sobre a China?" pergunta o VC americano. "Já morou aqui? Tem gente trabalhando aqui? Fala chinês?"

As respostas são não, não e não. Mas o nosso anfitrião, que considera Chanos um amigo, sabe que essa não é a questão. "Ele acertou com a Enron", diz Pete. "E Tyco. E toda a catástrofe das hipotecas nos EUA." E conclui: "Ele pode estar errado, mas você precisa me dizer por que ele está errado. Não basta dizer que ele não mora aqui."

Chanos sorri quando lhe conto a história em uma manhã recente, em Nova York. Sabe que se tornou um pára-raios. "A única vez que já fui vaiado ao dar uma apresentação sobre investimentos foi no início deste ano, em Oxford", diz. "Alguns estudantes chineses ficaram tão irritados comigo que começaram a gritar, dizendo o mesmo tipo de coisa: 'O que você sabe sobre a China? Como se atreve a dizer essas coisas!'"

Não é, claro, só os jovens chineses que se exaltam com o assunto. Qual empresa Fortune Global 500 não está apostando que a China é o futuro? Para muitas empresas, a possibilidade de Jim Chanos estar certo, de que poderia haver um colapso na China ao estilo dos EUA ou Japão, é mais do que assustador. É impensável.

Algo sem precedentes

Como Chanos desenvolveu essa obsessão com a China? Tudo começou em 2009, quando ele e sua equipe na Kynikos examinaram os preços das commodities e das ações das grandes mineradoras. "Tudo o que fizemos em nosso exame a nível micro (sobre commodities) remetia sempre para o mercado imobiliário da China", diz Chanos. O boom de construção da China estava comandando a demanda por quase todos os materiais básicos.

Um dia, numa conferência de pesquisadores em 2009, Chanos ouviu um analista discorrer sobre os números por trás do gigantesco boom de construção da China. "Disse que estavam construindo 5 bilhões de metros quadrados de espaço residencial e de escritórios novos, sendo 2,6 bilhões de metros quadrados só em novos escritórios. Eu disse a ele: 'Você deve ter colocado o ponto decimal no lugar errado.' Ele disse que não, os números estavam certos. Então vamos fazer as contas:... São quase 30 bilhões de pés quadrados de construção nova; há 1,3 bilhões de pessoas na China. (Considerando apenas o espaço de novos escritórios), isso equivale a uma baia de 2,3 metros quadrados para cada homem, mulher e criança no país. Foi quando me dei conta de que a China estava embarcando em algo sem precedentes.''

Kynikos hesita em mandar seus executivos para a China. Alguns analistas às vezes fazem viagens de pesquisa, embora Chanos mesmo nunca vá. Dada a sua reputação lá, diz ele, "é provavelmente melhor que eu não vá . Posso até ver a manchete do New York Post: INVESTIDOR DE NOVA YORK MORRE VÍTIMA DE TERREMOTO DE UM HOMEM SÓ".

Chanos diz que, por trás das análises de sua empresa, estão os dados do próprio governo chinês, disponíveis ao público, tais como números da Agência de Estatísticas e da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o ministério econômico mais poderoso da China. No ano passado, diz, sua equipe desenvolveu um "banco de dados proprietário" que acompanha as vendas de imóveis na China. "Não usamos dados falsificados. Nem ficamos apenas ouvindo ou vendo o que queremos", insiste. E ele tem uma resposta padrão para quem diz que ele não conhece a China porque não mora lá: "Eu também não trabalhava na Enron."

Tantos imóveis vazios

Para compreender o ceticismo de Chanos em relação à China - que ele chama de "Dubai multiplicado por mil" - vale a pena conhecer o novo condomínio do Vale Rose e Ginko, próximo a Sheshan Mountain, um novo subúrbio de Shanghai. Quarteirão após quarteirão de casas foram construídos. E estão vazios.

Nas maiores, mais ricas cidades do país - Pequim, Xangai, Cantão e Shenzhen, conhecidas como as cidades de primeiro nível entre os conhecedores do mercado imobiliário – esse não é um fenômeno incomum. Existe um grande contingente de imóveis novos e desocupados na China. Exatamente quantos - e até que ponto devem representar uma preocupação - são um debate crucial.

Contas de ativos de renda fixa representam mais de 60% do PIB global da China. Nenhuma outra grande economia chega perto. Desse total, pouco menos de um quarto corresponde a investimentos novos em imóveis.

Não existem dados anuais confiáveis sobre a quantidade de construções em andamento, nem sobre o volume vendido. Em 2009, por exemplo, os consumidores chineses compraram 44% mais espaço residencial que em 2008.
Casas desocupadas em uma subdivisão do distrito Kangbashi, nos subúrbios de Ordos City, nda Mongólia Interior

Mas não existem estimativas oficiais ainda para o número habitações privadas desocupadas, para a proporção de novas moradias vendidas que estão realmente ocupadas. (O governo, sinalizando que entende a importância da situação, está realizando um censo agora para tentar entender a situação).

Um bom exemplo é o projeto Sheshan. Um porta-voz da construtora que está tocando o projeto, baseado em Chongqing, disse apenas que quase todas as unidades foram vendidas antecipadamente. Isso, de fato, tem sido um procedimento operacional padrão no mercado de novas moradias na China. Compradores assinam contratos com a construtora, com o imóvel ainda na planta, e a construtora leva esses contratos ao banco para obter financiamento. Muito poucos projetos são feitos no risco.

Mas isso ainda deixa a pergunta que deixa muita gente nervosa - e que faz Chanos pessimista em relação à China: por que tantos apartamentos e casas, adquiridos e pagos, permanecem vazios? E como isso pode não ser visto como um mau sinal para o mercado imobiliário na China? E se isso significa dor futura para o mercado imobiliário, considerando que a venda de imóveis novos representou 14% do PIB em 2009, isso não significaria que o problema, mais cedo ou mais tarde, vai afetar o resto da economia?

Ninguém disputa que o mercado imobiliário na China é extremamente especulativo. Um investidor que mora perto de mim, num subúrbio de Xangai, comprou – acreditem se quiser - 43 imóveis nos últimos três anos. Ainda não se desfez deles porque, segundo ele, os preços continuarão a subir.

Chanos enumera várias razões para esse tipo de comportamento. Os investidores individuais chineses têm opções limitadas sobre onde podem colocar seus renminbi. Podem colocar seu dinheiro em uma conta bancária padrão e receber uma taxa negativa de retorno, dada uma taxa de inflação de cerca de 3%. Podem colocar o dinheiro no mercado de ações, mas as ações na China são muito mais voláteis do que nos mercados desenvolvidos. Controles de capital limitam as oportunidades de investimento para estrangeiros. Isso deixa apenas o mercado imobiliário como opção.

Chanos reconhece que a classe média emergente da China considera os imóveis uma reserva de valor. Para muitos, comprar um apartamento em Xangai ou Pequim é como comprar uma barra de ouro. E um grande número - "excessivo", diz Chanos – continua comprando, mesmo com a alta nos preços dos últimos cinco anos.

A equipe de Chanos, como inúmeras outras pessoas, tenta entender melhor o número de imóveis vazios que existem na China. Um economista independente com visão negativa sobre a China, Andy Xie, estimou o montante no equivalente a 15% do PIB. Chanos não reconhece esse número em particular, mas acredita que "é um grande problema, e está ficando pior, não melhor, com mais unidades chegando ao mercado."

Chanos: Certo ou errado?

Não há dúvida de que a febre especulativa no mercado imobiliário tem chamado a atenção do governo chinês. No segundo trimestre deste ano, Pequim começou a endurecer as condições de financiamento e está tentando limitar o número de unidades que um investidor individual pode comprar a dois imóveis. Durante algum tempo, essas medidas esfriaram o mercado. Mas Chanos lembra que os preços estão subindo de novo, e mais de 30 milhões de novos apartamentos, mansões e casas devem entrar no mercado no próximo ano. Se o governo não intensificar seus esforços para tentar conter a especulação, o mercado pode azedar mais cedo do que imaginam, acredita Chanos. E se o governo não intensificar os esforços contra os especuladores, "vão estar se enfiando mais alguns metros no buraco". De qualquer maneira, diz, "vão acabar no mesmo lugar." Considere Dubai, diz: no auge do seu boom, havia 240 metros quadrados de imóveis em construção para cada USD 1 milhão do PIB nacional. Nas cidades chinesas de hoje, essa proporção é quatro vezes maior. "Já assistimos a esse filme", diz. Seja Dubai há alguns anos, Tailândia ou Indonésia durante a crise asiática do final dos anos 90, ou Tóquio cerca de 1989, "isso sempre acaba mal".

Chanos aposta seu dinheiro em suas convicções. No mês passado, ele compareceu à conferência promovida por Grant's Interest Rate Observer no Plaza Hotel, em Manhattan, e não apenas expôs os motivos de seu pessimismo em relação à China, como também enumerou as ações de empresas nas quais está vendido (short). Poly HK é uma delas: uma construtora com ações na bolsa de Hong Kong (e uma empresa que a Goldman Sachs recomendou para compra no mês passado). É uma estatal que começou como uma empresa de defesa, mas, atraída pelo boom, mergulhou no mercado imobiliário. Chanos também está vendido em relação a todo o índice da Bolsa de Hong Kong. E acredita que o China Merchants Bank, um dos maiores de Pequim, tem uma grande exposição às agências regionais de financiamento dos governos locais em toda a China. Cerca de 11% da carteira total de empréstimos em aberto, de acordo com Chanos, é para essas filiais de financiamento locais (conhecidas como Veículos de Financiamento do Governo Local, ou LGFVs, na sigla em inglês).

Qual a importância disso? Uma proposição-chave da teoria altista para o mercado imobiliário da China é a falta de alavancagem. O sistema financeiro simplesmente não está em risco, diz essa linha de pensamento, mesmo que haja um colapso do setor imobiliário. Mas Chanos acredita que os LGFVs estão profundamente expostos à construção, e que, caso haja uma virada no mercado, a dor sentida pelo China Merchants Bank, bem como por outros, será considerável. Victor Shih, um professor da Northwestern University, fez um estudo no início deste ano e concluiu que esses LGFVs acumularam USD 1,6 trilhão em novas dívidas entre 2004 e 2009. Como Chanos lembra, o próprio banco regulador da China começou recentemente a limitar empréstimos locais, depois de concluir que 26% do saldo em dívida é de "alto risco".

A desaceleração na China teria graves efeitos por todo o mundo. Chanos acredita que os produtores de minério de ferro, e a gigante brasileira Vale (VALE) em particular, seriam vítimas. A enorme quantidade de investimentos de capital na China criou a demanda por grandes volumes de aço e outros metais, e isso, por sua vez, tornou a China o maior mercado do mundo para minério de ferro. Os papéis da Vale eram negociados no início de novembro perto do pico de 52 semanas, e seu CEO, Roger Agnelli, recentemente se gabou de que tem a maior frota de navios do mundo, depois da marinha dos EUA. Se você adotar o ponto-de-vista de Chanos, isso não é uma boa coisa. Segundo ele, "A Vale vai ter um monte de navios vazios em mãos".

Motivos para otimismo

Quem vende a descoberto (short-sellers) é geralmente desprezado –a menos e até que acabem tendo razão. É isso que está acontecendo agora. O sentimento sobre a China é tão otimista que as pessoas pensam que Chanos ou enlouqueceu ou está de alguma forma envolvido numa enorme armação e não pode ser levado a sério. (De fato, ele não diz quanto do USD 1 bilhão sob gestão da Kynikos está em jogo em posições relacionadas com a China). "Por que expresso minhas opiniões sobre a China?", pergunta. "Pela mesma razão que o fiz com a Enron. O público só ouve o caso otimista. Eu tenho uma história a contar, e não tenho medo de contá-la. Estas são as nossas convicções sobre a China, e estamos agindo de acordo. Então podem rebater o que digo. Queremos ouvir os contra-argumentos. Sério."

Muitas pessoas estão dispostas a aceitar seu desafio. O caso otimista para a China tem muitos componentes, mas o mais importante é a alavancagem - ou melhor, a falta dela. Considere o investidor - seu nome é Yue Shi Cheng - que me disse possuir 43 apartamentos em Xangai. Ele não aluga nenhum – algo que não é incomum na China; os aluguéis são baratos, e muitos proprietários, portanto, acreditam que o tempo e o aborrecimento de ter locatários não valem a pena. Das 43 unidades que possui, pagou do próprio bolso por todas – nunca tirou uma hipoteca. De acordo com um estudo recente da CLSA Asia Pacific Securities, o uso de hipotecas está aumentando na China, mas apenas 40% de todas as casas compradas são financiadas por dívida. Mesmo quando isso acontece, os compradores chineses geralmente têm que dar uma entrada de 30% ou mais do preço de venda.

Aqui não há "empréstimos mentirosos" (liars' loans). Não há securitização de hipotecas. O financiamento de imóveis é feito à moda antiga: os compradores arcam com o risco. A falta de alavancagem no sistema significa que, mesmo que haja um declínio significativo nos preços dos imóveis, é improvável que o sistema financeiro chinês seja danificado de forma séria.

Chanos alega que existe mais dívida não-contabilizada pelos veículos de financiamento local do que os otimistas querem admitir, e que os créditos duvidosos, quando o mercado imobiliário mudar de direção, vão se acumular mais rapidamente do que o esperado. Essa é uma área em que o governo chinês já admitiu precisar dar mais informação ao mercado; mas, mesmo contando apenas o que é conhecido publicamente, os otimistas simplesmente discordam de Chanos. Arthur Kroeber, diretor-gerente do Gave-Kal Dragonomics, uma consultoria econômica sediada em Pequim, diz que o governo central já está forçando os governos locais a diminuir os empréstimos e até fechou vários LGFVs que não tinham receitas suficientes para o serviço de suas dívidas com os bancos. "A dívida do governo chinês", diz Kroeber, "é claramente administrável".

O segundo componente do argumento otimista é simples: dizem que a combinação de altos preços e o excesso de construções em Pequim e Xangai simplesmente recebem mais atenção do que merecem. Andy Rothman, economista chefe para a China do CLSA, lembra que o montante total do espaço comprado em cidades pequenas de terceiro nível (onde quase 357 milhões de pessoas - ou 57% da população urbana da China - vivem) tem aumentado lentamente como uma percentagem do total nacional. E nessas cidades os preços estão até 70% mais baixos do que nas quatro cidades mais ricas do país: Pequim, Xangai, Shenzhen e Guangzhou. "Não há bolha imobiliária nacional", afirma Rothman.

A renda pessoal, além disso, continua a subir na China, assim como o consumo. No primeiro semestre deste ano, o rendimento urbano disponível cresceu mais de 6%, depois de uma aumento de 10% no ano passado. "O aumento da renda continua a sustentar a ascensão da classe média", diz Rothman. Como resultado, "temos a melhor história de consumo do mundo."

A resposta de Chanos a esses dois pontos básicos é direta: "É uma economia que tomou anabolizantes", diz. Assim como o Japão na década de 1980 cresceu principalmente com base no investimento, a China terá que parar, eventualmente. "O Japão tornou-se uma máquina de destruição de capital, e é isso que a China é agora. Temos uma economia com uma taxa de 60% de investimento em ativos fixos, e nem mesmo no mundo em desenvolvimento isso é sustentável. Não foi no Japão. Não foi na Coréia."

Chanos é agnóstico em relação ao momento preciso de uma quebra para valer da China; tampouco tem idéias específicas sobre o que poderia desencadear uma recessão. Apenas acredita que ela está chegando. Uma possibilidade - refletida por um forte declínio do mercado de ações em 12 de novembro - é que a aceleração da inflação possa forçar o banco central chinês a restringir o crédito mais rapidamente do que o esperado, colocando uma pressão adicional sobre as construtoras.

No final da enrtrevista, digo-lhe que eu também tenho investimentos na China, com apostas no setor imobiliário. Minha esposa e eu compramos uma casa modesta num subúrbio de Xangai há alguns anos e, pelo menos no papel, ganhamos dinheiro. Casas semelhantes na nossa região têm sido vendidas por preços muito acima do que pagamos. Ele sorri e diz: "Bem, boa sorte."

Na verdade, eu ainda sou, relativamente falando, um otimista em relação à China. Mas eu moro perto do condomínio do Vale Rose and Ginko. Devo admitir que, mesmo antes de conhecer Chanos, cada vez passava pelo condomínio, à noite, eu desejava secretamente ver algumas luzes acesas. E continuo a pensar assim – agora mais do que nunca.