Bill Bonner
Agora, Inc.
Postado por Marco Aurélio
(19/11/10 - Baltimore, Maryland) - O assunto do momento é o tanto que se deve pelo mundo. A dívida precisa desaparecer.
O excesso de dívida foi a besta negra do mercado, esta semana e na semana passada. Na Europa, a besta atacou os irlandeses e os carregou em sua boca para longe. Em seguida, virou-se contra os portugueses. Todo mundo sabia que os estados periféricos estavam quebrando. Para eles, o custo de tomar emprestado havia disparado. Então, quando os grupos de resgate os encontraram, os irlandeses mandaram que voltassem. A dívida tem sua utilidade, pensaram os irlandeses. Conseguiram recusar ajuda até quarta-feira passada, aparentemente a negociar os termos de seu próprio resgate.
Nos Estados Unidos, a dívida municipal desabou quase 10% nas últimas duas semanas. Tornou-se cada vez mais evidente que os governos estaduais e municipais vão igualmente à bancarrota. A Califórnia pode receber um socorro do governo federal ... mas a Califórnia, como a Irlanda, é um estado soberano. Pode dizer “não”. Quem havia emprestado dinheiro preocupou-se com a possibilidade de californianos e irlandeses preferirem dar o cano, como pessoas incompetentes, mas honestas, ao invés de ceder às exigências dos socorristas.
A dívida não recebe o crédito que merece. Por um lado, é mais confiável do que ativos de valor. A crise de '07-'09 dizimou cerca de um terço do capital não-exigível e da riqueza do mundo. E fez desaparecer sete milhões de empregos só nos EUA. Mas a dívida sobreviveu intacta. Em termos de fluxo de caixa necessário para suportá-la, a dívida, na verdade, cresceu.
Os planejadores centrais podem fazer parecer que uma recessão foi embora. Com dinheiro quente o suficiente, podem aquecer os preços dos ativos ou aliviar uma taxa de desemprego crescente. Mas a dívida não colabora. Nem a política monetária, nem a política fiscal conseguem fazer com que desapareça. A dívida exige honestidade. O devedor precisa confessar seus pecados e dar a mão à palmatória, admitindo que é ou um tolo ou um patife. Ou ele confessa seus erros e dá o cano ... ou engana.
"Com todo o respeito, os formuladores de política econômica dos EUA não têm a menor idéia de nada", disse o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble. "O problema não é que os americanos não bombearam liquidez o suficiente no mercado. Agora dizer que vão bombear mais não vai resolver o problema."
Os anglófonos convenientemente não quiseram entender o problema. As autoridades trabalharam duro para não ver a crise da dívida que se anunciava. Fizeram suas carreiras e reputações esforçando-se por não entendê-la. Milhares dessas pessoas trabalham para governos e bancos centrais ... se notassem o problema agora, provavelmente teriam que pedir demissão.
Fingem que o problema é a falta de "liquidez". Ou uma falha do capitalismo. Ou que os reguladores deixaram a bola cair. Mas não é nada disso. Cada um desses problemas pode ser "resolvido". Liquidez a menos? O Fed pode adicionar um pouco – o tanto que você quiser. Será que o capitalismo perdeu o caminho? Não tem problema – é só usar mais planejamento central. Falta regulamentação? Você só pode estar brincando – aumentar a quantidade de regulamentação é o que eles fazem melhor.
O verdadeiro problema é a dívida. Na Irlanda, por exemplo, investidores, proprietários e banqueiros, todos perderam a noção das coisas na Bolha Époque. Comprei uma casa na Irlanda em 2006. Sabia perfeitamente que o preço estava supervalorizado. Havia caminhado pelas ruas de Dublin. Havia visto lojas oferecendo imóveis, não apenas em Dublin ... mas em Dubrovnik. E havia ouvido as pessoas dizerem que os imóveis "nunca caem de preço".
Agora minha casa valeria cerca de metade do que paguei por ela - se pudesse encontrar um comprador. Não há razão para esperar que a casa recupere seu valor - pelo menos em termos reais – e volte ao nível de preço em que estava há três anos. Essa riqueza desapareceu. Junto com ela, desapareceu a garantia dos bancos e o valor da dívida que a casa lastreava. Morreu. Não é mais. Deixou de ser. É pretérito. Mas, ao invés de deixar que os detentores de títulos arquem com as perdas que merecem – as autoridades financeiras acudiram rapidamente com garantias e mais crédito. O déficit da Irlanda subiu para incríveis 30% do PIB. A dívida nacional passará de 100% do PIB para 120%.
Enquanto isso, a Califórnia está se aproximando da falência - e tomando mais dinheiro emprestado também. O estado está USD 25 bilhões no buraco, sem um plano plausível para sair. O Instituto Milken diz que o passivo a descoberto com pensões vai subir para USD 10 mil per capita em 2013 - o equivalente a uma hipoteca extra de USD 40 mil para cada família. Como a Irlanda, a Califórnia não pode pagar as dívidas que assumiu. O governo federal vai entrar com o socorro financeiro ... mas com restrições.
E logo os socorristas vão estar em apuros também. Segundo o Wall Street Journal, uma combinação de 15 dos mais importantes governos nacionais terá que tomar emprestado um total de mais de USD 10 trilhões no próximo ano, para financiar os deficits e pagar títulos que vão vencer. Isso equivale a 27% de sua produção econômica total. Esse valor também é igual a aproximadamente duas vezes a poupança anual do mundo inteiro.
As autoridades alertam para o risco de "contágio". Suam "para acalmar os mercados". Mas por que se dar ao trabalho? Uma dívida dessa magnitude não pode ser paga. Já se mostrou impagável. Merece ao menos um enterro decente.
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