sábado, 27 de novembro de 2010

Grécia? Irlanda? Portugal? Espanha? Itália? Reino Unido?

Washington's Blog


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Postado por Marco Aurélio

Todo mundo agora sabe que os dominós de um contágio em potencial na Europa devem cair aproximadamente na seguinte ordem:

Grécia Irlanda Portugal Espanha Itália Reino Unido

Enquanto algumas pessoas já vem escrevendo sobre isso há mais de um ano, tem muita gente que só agora embarcou na onda (existem mais de 600.000 hits no Google para esse assunto).

Todo mundo agora também já sabe que, enquanto a Grécia e a Irlanda têm economias relativamente pequenas, o grande problema vai ser quando o dominó espanhol cair.

A economia da Islândia ocupa a 112ª. posição; a da Irlanda, a 38ª., Portugal, a 36ª. Já a espanhola é a nona, a da Itália, a sétima, e a do Reino Unido, a sexta. Uma quebra de uma dessas três últimas seria devastadora para a economia mundial.

Como Nouriel Roubini escreveu em fevereiro:

“Mas o verdadeiro dominó-pesadelo é a Espanha.”

Roubini se refere aos problemas da dívida espanhola como "o elefante na sala".
Você pode tentar isolar a Espanha. E pode tentar dar financiamento oficial para a Irlanda, Portugal e Grécia, por três anos. Então pode deixar esses países fora do mercado. Depois, talvez até reestruturar suas dívidas.

Mas se a Espanha cair no precipício, não haverá dinheiro oficial suficiente no fundo europeu para socorrer a Espanha. A Espanha é grande demais para falir, por um lado, e também grande demais para salvar, por outro.

Com a Espanha, o primeiro problema é o tamanho da dívida pública: €1 trilhão. (A Grécia, para efeitos de comparação, tem €300 bilhões de dívida pública). A Espanha também tem €1 trilhão em dívidas privadas estrangeiras.

Para problemas dessa magnitude, simplesmente não há recursos governamentais ou supra-governamentais suficientes.
Como já observei, a Alemanha e a França – a quarta e a quinta maiores economias - têm a maior exposição à dívida portuguesa e espanhola. Para saber mais sobre as interconexões entre as economias do euro, que aumentam o risco de contágio, clique aqui e aqui.

Embora seja tentador pensar que os resgates da zona do euro significam que há países credores que administraram suas economias bem e acumularam grandes quantidades de reservas, as quais emprestam, Sean Corrigon mostra que, na verdade, os resgates europeus são uma enorme pirâmide:
Sob as regras deste jogo viciado envolvendo trilhões, os governos soberanos garantem o Banco Central europeu, que dá fundos para os bancos comprarem a dívida do governo, que fornece garantias para todos.
(Nos EUA não é diferente: Bill Gross, Nouriel Roubini, Laurence Kotlikoff, Steve Keen, Michel Chossudovsky e o Wall Street Journal todos dizem que a América também está construindo uma enorme pirâmide. E tanto os EUA quanto a Europa tentam encobrir a insolvência de seus bancos com testes de stress falsos).

Não precisava ser assim. As nações européias não tinham que se sacrificar pelos seus grandes bancos.

Como Roubini escreveu em fevereiro:
"Decidimos socializar as perdas privadas do sistema bancário."
    
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Roubini acredita que repetidas tentativas de intervenção só aumentaram a magnitude dos problemas com a dívida pública. Diz: "Agora temos um monte de super-soberanos – o FMI, a UE, a zona do euro – resgatando esses governos".

Essencialmente, os supra-soberanos garantem a dívida dos governos – aumentando a escala e concentrando os problemas.

Roubini caracteriza a intervenção supra-soberana como uma mera postergação do problema. Diz ironicamente: "Não vai ter ninguém vindo de Marte ou da lua para socorrer o FMI ou a zona do euro."

Mas, apesar da dança de papéis ao nível nacional, e também ao nível das entidades supranacionais, a realidade acaba vencendo: "Chega um ponto em que é preciso ter algum tipo de reestruturação. Em algum ponto, precisamos que os credores dos bancos sofram perdas – caso contrário, colocamos toda essa dívida no balanço dos governos. E então você quebra a espinha dorsal do governo e, em seguida, o governo fica insolvente".

E aqui está a minha opinião, em abril deste ano:

Como eu disse em dezembro de 2008:
O Bank for International Settlements (BIS) é chamado de "banco central dos bancos centrais", porque coordena as transações entre bancos centrais.

O BIS assinala em novo relatório que os pacotes de salvamento transferiram riscos significativos para o balanço dos governos, algo que se reflete no correspondente aumento nos swaps de crédito soberano:
O alcance e a magnitude dos pacotes de resgate bancário também significam que riscos substanciais foram transferidos para os balanços do governo. Isso ficou especialmente evidente no mercado de referência para CDS soberanos envolvidos tanto no socorro a bancos individuais grandes quanto em pacotes abrangentes para o setor financeiro, inclusive nos Estados Unidos. Embora tais CDS fossem pouco negociados antes do anúncio dos pacotes de resgate, os spreads aumentaram de forma repentina com um salto na demanda por proteção ao crédito, enquanto os spreads correspondentes do setor financeiro diminuíram.
Em outras palavras, ao assumir grandes porções do risco dos bancos que negociavam derivativos tóxicos, e ao gastar trilhões que não têm, os bancos centrais colocaram seus países em risco de default.

    ***
Mas Eles Não Tinham Escolha ... ou Tinham?

Mas os países foram obrigados a socorrer seus bancos, não?

Bem, na verdade, foi uma escolha deles.

O principal economista monetário disse ao Wall Street Journal que esta não era uma crise de liquidez, mas uma crise de insolvência. Ela disse que Bernanke está lutando a guerra passada, com uma abordagem errada (os outros bancos centrais estão fazendo a mesma coisa).

Paul Krugman, economista ganhador do prêmio Nobel, e o famoso economista James Galbraith concordam. Dizem que as tentativas do governo de sustentar o preço dos ativos tóxicos não adianta nada.

O BIS criticou a política de crédito fácil do Fed e outros bancos centrais, a falta de regulação do "shadow banking system", o uso de artifícios e paliativos", e disse que qualquer coisa que não seja (1) deixar os preços dos ativos cair a seu verdadeiro valor de mercado, (2) aumentar as taxas de poupança e (3) obrigar as empresas a dar baixa em dívidas podres "só vai piorar as coisas".

É importante lembrar que os EUA não eram o único país com uma bolha imobiliária. Os banqueiros centrais do mundo inteiro permitiram o desenvolvimento de uma bolha global no setor imobiliário. Como observei em dezembro de 2008:
... A bolha não se restringe aos EUA

Havia uma bolha global no mercado imobiliário.

E, de fato, a The Economist escreveu em 2005 que o boom mundial em preços dos imóveis residenciais nesta década foi "a maior bolha da história". The Economist observou que - na época - o valor total dos imóveis residenciais nos países desenvolvidos aumentou em mais de USD 30 trilhões, para USD 70 trilhões, no decorrer dos últimos cinco anos - um aumento igual ao PIB combinado desses países.

Bolhas imobiliárias estão agora estourando na China, França, Espanha, Irlanda, Reino Unido, Europa Oriental, e muitas outras regiões.

E a bolha no setor imobiliário comercial também está estourando no mundo inteiro. Veja isto.
***

O BIS também advertiu que os pacotes de socorro podem prejudicar a economia real (uma advertência também feita pelo ex-chefe de operações de mercado aberto do Fed). Na verdade, os resgates criam um clima de perigo moral (moral hazard) que incentiva um comportamento ainda mais arriscado. O Prêmio Nobel de Economia George Akerlof previu, em 1993, que os credit default swaps levariam a um grande crash, e que mais crashes eram uma certeza, a menos que os governos impedissem os grande players da área financeira de fazer apostas que nunca poderiam pagar se as coisas dessem errado. Também teriam que parar de socorrer esses players.

Estas verdades são tão aplicáveis na Europa quanto nos EUA. Os banqueiros centrais têm feito coisas erradas. Não consertaram nada - simplesmente transferiram os derivativos tóxicos e outras bombas financeiras dos bancos gigantes para os balanços nacionais.

Nota: Mesmo que a razão entre a dívida da Itália e seu PIB pareça alto, a Itália tem uma alta taxa de poupança e quase toda a sua dívida está nas mãos de italianos. Por isso, pode não ser tão vulnerável como se poderia pensar.

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