Phoenix Capital Research
30/11/2010
Postado por Marco Aurélio
No início deste ano, comentei que a crise da dívida européia estava se desenrolando de forma exatamente análoga à crise bancária dos EUA de 2008. A Grécia este ano desempenhou o papel do banco de investimentos Bear Stearns em março de 2008: um jogador de importância menor, engolido pelo JP Morgan com a ajuda do Fed de NY, numa tentativa de manter a aparência de estabilidade.
Depois da Grécia, veio o anúncio de um resgate de USD 1 trilhão, uma soma parecida com aquela dada às agências quase-governamentais dos EUA, Fannie Mae e Freddie Mac. Foi uma quantidade enorme de dinheiro, desperdiçada pelas autoridades com o intuito de criar a ilusão de que não havia risco sistêmico.
Quando escrevi meu primeiro artigo, disse que só faltava um "evento Lehman", aquele evento especial depois do qual não restariam dúvidas que o contágio está ocorrendo, com graves consequências para o sistema como um todo.
Bem, parece que esse evento está prestes a acontecer.
Mal secou a tinta no contrato firmado para socorrer a Irlanda, e Portugal, Itália e Espanha estão implodindo. O mercado não está mais comprando a história de que o que está acontecendo é um problema isolado, restrito a um único país. A ficha está finalmente caindo para os investidores, com a noção de risco sistêmico finalmente começando a despontar. E, como 2008 bem mostrou, quando o pânico bate, bate pra valer e bate de repente.
De fato, como Zero Hedge observou recentemente, o rendimento sobre o último pacote de resgate para a Irlanda trouxe taxas de 6,7%, um ponto percentual e meio a mais do que a taxa exigida dos gregos. Em outras palavras, o FMI e a UE consideram ajudar a Irlanda uma empreitada mais arriscada do que socorrer a Grécia.
Mas será que a situação da Irlanda realmente parece pior?
Tanto a razão entre déficit e PIB quanto a razão entre dívida e PIB são menores para a Irlanda do que para a Grécia. Além disso, o PIB também é menor, fato que implica a necessidade de uma quantidade nominal menor de dinheiro.
E mesmo assim a Irlanda é considerada mais arriscada do que a Grécia?
Vamos ser francos: a Irlanda não é mais arriscada do que a Grécia. Simplesmente está sendo socorrida num momento mais adiantado do jogo, quando todo mundo já começou a perceber que a dinheirama sendo usada para resgatar a periferia européia está sendo jogada ralo abaixo e que, no final das contas, um default é a única solução possível. Os credores não vão receber nem um centavo desse dinheiro ... logo, a taxa de juros mais elevada é uma tentativa de recuperar o máximo possível antes do default inevitável.
E a Espanha e a Itália são as próximas da fila.
Trocando em miúdos, estamos literalmente à beira de um momento "Lehman Brothers" na Europa. Todos, inclusive os otimistas mais cegos, estão começando a acordar e a perceber o fato simples e óbvio de que não é possível resolver um problema de dívida com a emissão de mais dívida. Nunca funcionou antes, e certamente não vai funcionar agora.
Já faz alguns meses que venho alertando sobre a volta do risco sistêmico. Se você ainda não tomou medidas para se preparar, O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO? UM CONVITE FORMAL? Você realmente acha que a crise da dívida externa européia está "contida"? A última vez que a palavra "contida" foi usada no contexto de uma crise financeira foi nos EUA, no início de 2008.
E deu no que deu.
Bons investimentos,
Graham Summers
http://www.gainspainscapital.com
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