quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Imprimir Dinheiro: A Idéia Fixa do Fed

Dr. Marc Faber


Postado por Marco Aurélio

Dr. Marc Faber busca as melhores empresas asiáticas para investir e foi o primeiro a dar o sinal de alarme e desenvolver um prognóstico negativo em relação ao Japão, no final dos anos 80. É o editor do The Gloom, Boom and Doom Report. Dr. Faber opera a partir de Hong Kong há quase vinte anos. Durante esse tempo, tem se especializado nos mercados asiáticos e trabalha com grandes clientes em sua procura por ações subvalorizadas com enorme valor potencial e ótimas perspectivas de valorização. Dr. Faber é autor do best-seller Tomorrow's Gold.

10/20/10 (Nota do editor do Daily Reckoning: Segue aqui um trecho da edição de outubro do indispensável boletim do Dr. Faber, The Gloom, Boom and Doom Report)

Não importa o que os banqueiros centrais e suas tietes (principalmente os acadêmicos inúteis que os cercam) dizem que vão fazer, em sua aura auto-criada de infinita "delicadeza e refinamento" acadêmicos: a verdade é que, sob os auspícios do Fed, vão continuar a fazer uma coisa apenas: imprimir dinheiro ad infinitum e ad nauseum. Infelizmente, como Mignon McLaughlin já observou: "As pessoas que não sabem nada, infelizmente, raramente são as pessoas que não fazem nada” (Nota do Tradutor – em português diríamos que “não há nada pior do que um burro com iniciativa”).

Gostaria de enfatizar mais uma vez que o Fed dos EUA vai continuar a monetizar sua dívida maciçamente mediante qualquer sinal de fraqueza continuada na economia ou de um declínio mais significativo (aproximadamente 10%) nos mercados financeiro e imobiliário.

No mundo que eu descrevi acima, o aumento da oferta de dólares terá que fluir para algum lugar.

Recentemente, a CNBC entrevistou Bernie Marcus, de 81 anos de idade, um dos sócios-fundadores da Home Depot. Marcus foi CEO entre 1979 e 1997. Um homem que se fez por seus próprios méritos e esforços, com a cabeça no lugar e sem um pingo de arrogância. Marcus relatou como ele e Arthur Blank (o outro co-fundador) suaram quando abriram sua primeira loja em 1979, em Atlanta, na Georgia.

Por exemplo, disse que, às 10 horas da noite do seu aniversário de 50 anos, ainda estava na loja, carregando caixas pesadas no calor de Atlanta, sem ar-condicionado, porque precisava economizar dinheiro. Disse também que não convive com "pessoas importantes", como Jeff Immelt, da GE, e banqueiros e acadêmicos maciotas; em vez disso, fala diariamente com pequenos empresários, gente como ele quando estava começando seu negócio. Citou então vários exemplos de pessoas que dirigem pequenas empresas e que lhe haviam dito como as condições de negócios eram difíceis. Sugeriu que, como um rei em um conto de fadas, Obama deveria se vestir à noite como um mendigo e sair para conversar com empresários. De acordo com Marcus, o rei Obama então perceberia como é impopular e como suas políticas econômicas têm sido destrutivas para as pequenas empresas. Também sugeriu que os acadêmicos do Fed e do governo americano deveriam, pelo menos uma vez na vida, sair para trabalhar, em vez de sentar-se em belos escritórios, sem nenhuma idéia sobre o que aflige a economia.

Marcus então destacou que nenhum dos pequenos empresários com quem conversara tinha planos de contratar pessoal, porque achavam que havia incerteza demais sobre os tipos de controles e leis que o Congresso e o governo iriam inventar no futuro. Todos os amigos e clientes lhe haviam dito que o plano de saúde do Obama (Obamacare) seria um completo desastre para eles. (O plano impõe às empresas de pequeno porte um enorme ônus para atender a exigências tributárias que nada têm a ver com questões de saúde). O plano vai obrigá-los a enviar para seus fornecedores formulários de imposto de renda para cada transação, efetivada no ano anterior, com valor acima de USD 600, com cópia para a Receita americana (o IRS). O Obamacare também financiará a contratação de 16 mil novos agentes para o IRS...). 

Perguntado sobre o que seria uma solução, Marcus, que se parece muito mais jovem do que sua idade real e é ainda bastante lúcido, respondeu que os EUA lucrariam muito se o Congresso entrasse em recesso por dois anos, já que isso impediria que o governo causasse ainda mais estragos econômicos.

Já mencionei anteriormente as opiniões críticas de outros empresários, como Lee Iacocca (ex-Chrysler) e Paul Otellini (CEO da Intel). Como Marcus, são da opinião de que o controle governamental está asfixiando os investimentos em capital e contratações de pessoal nos EUA. Mas, enquanto os "Otellinis" da vida estão sempre em contato com grandes corporações, Marcus - cuja filosofia é, "Faça o que for preciso para vender", busca cultivar relacionamentos com um grande número de pessoas comuns que tocam suas próprias empresas e têm vendas que variam de meio milhão a 100 milhões de dólares.

Marcus também foi muito crítico em relação aos vários socorros (bailouts) aos bancos (ao contrário do egoísta e hipócrita Charles Munger, sócio de Warren Buffet). Levantou uma questão particularmente interessante. Disse que os homens de negócios com quem havia conversado tinham acesso a crédito, e que os bancos estavam dispostos a emprestar-lhes dinheiro! Mas não tinham interesse na captação de recursos, dada a incerteza atual sobre a evolução do quadro de regulação governamental. Devo dizer que Marcus é a antítese dos formuladores de política econômica e dos acadêmicos que se imaginam de infinita delicadeza e requinte e sofrem de um "estreitamento da mente" - não porque viajam, mas porque nunca trabalharam antes em uma empresa de verdade. Mas, obviamente, Marcus sabe do que está falando. (Home Depot hoje emprega mais de 300.000 pessoas).

Agora, será que alguém realmente acha que, com as condições que Marcus descreveu, o aumento do Fed na quantidade de dinheiro fluirá para dentro do mercado de trabalho dos EUA e produzirá ganhos reais de salário? Como Marcus gosta de dizer, "Você deve estar brincando!"

Os fluxos de dinheiro vão continuar a aumentar o emprego nas economias emergentes, junto com o valor dos salários e os preços dos ativos.

A melhor maneira de visualizar esse processo é pensar em uma enorme máquina de impressão de dinheiro nos EUA, que produz uma quantidade ilimitada de dólares. A maior parte desse dinheiro flui para o setor empresarial, instituições financeiras e pessoas ricas. Uma grande parte desses dólares é então transferida para as economias emergentes por meio dos fluxos do déficit comercial e de investimentos pelos EUA, impulsionando a atividade econômica e aumentando a riqueza em economias emergentes, relativamente aos EUA.

Alguns desses dólares, em seguida, encontram o caminho de volta para os EUA e sustentam os preços dos títulos do Tesouro americano. Mas como menos dólares voltam para os EUA do que saem do país, o dólar tem uma tendência de enfraquecimento face às moedas dos mercados emergentes e, principalmente, face aos ativos tangíveis cuja oferta é extremamente limitada, em comparação com o dinheiro que a máquina de imprimir continua a cuspir.

Saudações,

Dr. Marc Faber
The Daily Reckoning

Nenhum comentário:

Postar um comentário