sábado, 13 de novembro de 2010

“Double Dip” na Europa Começa, Política Monetária do Continente se Encontra à Mercê do Fed de NY

Submetido por Tyler Durden


Postado por Marco Aurélio

Com todo o mundo focado na Irlanda, esperando para ver se finalmente o país vai ao encontro de uma morte merecida, algo que passou desapercebido pela maioria dos observadores é que, com a publicação de dados econômicos europeus bastante fracos, fica claro que a Europa já entrou na segunda fase da recessão (double dip). Isso com certeza não é novidade para os leitores de Zero Hedge, já que estávamos confiantes de que esse seria o caso quando o par EURUSD atravessou 1,30 pela primeira vez há vários meses. Para outros, porém, a notícia pode ser um choque. Infelizmente, os problemas da Europa só vão piorar. Agora, a única forma de estimular o crescimento orgânico (leia-se, “simular outra recuperação movida pelas exportações”) requer a desvalorização do euro. Mas isso exigiria que o BCE não apenas lançasse um programa semelhante ao QE do Fed, o que paradoxalmente enfureceria a Alemanha, cansada de inflação (e dona de uma economia que se beneficiaria enormemente de um salto nas exportações), mas, de maneira muito mais importante, também enfureceria o Fed de Nova York. E a Europa não pode se dar a esse luxo – lembrem-se que, na estrutura financeira precária da Europa, a qual mantém vivos vários países entre a vida e a morte na UTI econômica, o BCE definitivamente não é o primeiro a prestar serviços de socorro e ressuscitação. Esse papel cabe ao Fed de NY, o qual, graças às linhas de swap cambial, tem agora poder (leverage) infinito sobre o que acontece na Europa. Caso haja outra crise, e haverá, a generosidade do Fed será testada novamente. Assim como será a do FMI... dono de linhas de crédito para as quais os EUA são, por uma coincidência incrível, o maior contribuinte. Existe uma expressão para esse tipo de arranjo: poder absoluto (total leverage).

Em troca de todos esses mecanismos variados que permitem que a Europa continue a sua mal-fadada e fracassada experiência com o EUR, o Fed é agora o supremo ditador da política monetária européia. Portanto, na corrida global rumo ao fundo do poço do valor cambial, é garantido que a Europa não irá terminar em primeiro lugar, já que os tentáculos do Fed explicitaram, de forma inequívoca, a natureza do toma-lá-dá-cá que agora dita o rumo dos eventos. Trocando em miúdos, isso significa que a expressiva queda do PIB irá acelerar, já que a Europa se encontra com as opções monetárias cortadas, ao mesmo tempo em que os EUA colhem os frutos de um dólar enfraquecido (se não em relação à China, então certamente em relação à Europa).

Markit Economic Research é quem melhor resume a saraivada de más notícias econômicas:
A recuperação econômica da zona do euro perdeu embalo no terceiro trimestre, conforme esperado e de acordo com indicações anteriores de pesquisas PMI (Purchasing Managers Index). O PIB subiu 0,4% nos três meses até setembro, comparado com um aumento de 1% no segundo trimestre. Espera-se que a fraqueza continue nos próximos meses, especialmente à medida que a demanda doméstica parece fadada a permanecer esmirrada, dadas as tensões nos mercados financeiros, no comércio internacional e no campo político.

Muito mais que o troco pela "recuperação" do 2T

O ritmo de crescimento de 1% visto no 2T era claramente insustentável por muito tempo, e pode ser atribuído a vários fatores, como uma melhoria sobre a situação negativa causada por problemas meteorológicos no 1T. Entretanto, seria tolice ignorar a desaceleração no 3T como sendo simplesmente a normalização ou a conta a pagar pelo surto de crescimento nos trimestres anteriores. Dados do PMI sugerem que o embalo de crescimento continuou a perder força no início do 4T, reduzindo a taxa trimestral de crescimento do PIB a 0,3%. (O Composite Output PMI, cobrindo a indústria e serviços, apresentou uma média de 55,7 no 3T, mas caiu para 53,8 em outubro, o nível mais baixo dos últimos oito meses). Com a mídia focada nas tensões crescentes no comércio internacional, e a periferia do euro de novo em estado de crise, as chances de um queda continuada são muito altas).

Recuperação desigual

A recuperação da região também está parecendo muito desigual. Comemorações na Alemanha, que teve uma taxa de crescimento expressiva de 0,7%, vai contrastar de forma muito desconfortável com a fraqueza inesperada nos outros países, especialmente com a contração na Holanda e a estagnação na Espanha. Com o discurso do BCE focado na remoção da política ultra liberal numa hora em que as economias periféricas estão ou parando ou contraindo, as tensões advindas dessas políticas irão, com certeza, aumentar a incerteza e os distúrbios sociais na região, piorando as perspectivas.

Queda-surpresa na indústria

Enquanto o crescimento do PIB estava alinhado com as expectativas, a produção industrial na zona de euro foi bastante decepcionante. A produção caiu 0,9% em setembro, contra expectativas de um aumento de 0,3%.

Os dados mensais tendem a ser voláteis, e o declínio provavelmente exagera a medida em que o setor industrial enfraqueceu ao final do 3T. Mesmo assim os dados aumentam o crescente conjunto de evidência que sugere que o setor industrial está expandindo a um passo muito mais lento do que o do começo do ano. Examinando o crescimento ao longo dos três meses mais recentes, a taxa de expansão desacelerou para 0,8%, muito inferior ao pico de 2,9% nos três meses até maio.

Essa é uma enorme decepção, dado que a indústria tinha sido uma grande fomentadora de crescimento anteriormente este ano e esse fato suscita questões sobre a firmeza da recuperação. O fato de que bens duráveis mostraram a maior queda (menos 3% durante o mês) põe em relevo a fraqueza persistente da demanda doméstica na região como um todo, à medida que as famílias se preocupam com as medidas de austeridade, estabilidade no emprego e a crescente crise financeira, que permanecerá um importante freio na economia daqui para a frente.
Entao, resumindo os acontecimento desta semana: a China está sobreaquecida e deve aumentar as taxas de juros, numa tentativa de neutralizar o tsunami de liquidez do Louco do Fed, a crise dos países europeus irá, em breve, ceifar mais dois países (mesmo enquanto o continente desiste de sonhos fantasiosos de paridade EURUSD) e, de forma mais importante, a profecia de um POMO que se autorealiza está agora acabada.

Vale a pena agora dar uma olhada nas chances indicadas no InTrade sobre a probabilidade de um IPO da GM vir a cabo...

Link - Markit Report inteiro

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